Perguntei aos meus alunos de quem é a frase “o homem é o lobo do homem”, onde ela está escrita e qual o seu significado.
Quase todos disseram que a frase era de Thomas Hobbes, escrita em seu livro Leviatã, e significava que o homem, por natureza, faz mal ao próprio homem.
Muitos sites trazem a mesma informação.
No entanto, esse caso nos mostra a importância de se buscar as fontes primárias, em vez de basear-se, exclusivamente, em informações de segunda mão.
Digo isso porque, neste caso, há muitos equívocos a serem considerados.
Primeiro, a frase não é de Hobbes, mas de Platus, dramaturgo romano do século II a.C. A frase original seria “Lupus est homō hominī, nōn homō, quom quālis sit nōn nōvit”, a qual pode ser traduzida por “O homem não é homem, mas um lobo, para um estranho”.
Segundo, a célebre frase não foi escrita no “O Leviatã”, mas no livro anterior de Hobbes, “Do Cidadão”.
Terceiro, a citação não é literal. Hobbes, na verdade, faz quase uma paráfrase. Assim ele escreve: “Ambos os ditos estão certos: que o homem é um deus para o homem, e que o homem é lobo do homem. O primeiro é verdade se compararmos os cidadãos entre si. E o segundo, se cotejamos as cidades”. O que o autor quis dizer aqui, considerando todo o contexto no Capítulo I do livro, onde se encontra essa citação, é que a violência que os homens condenam na atitude de seus governantes e concidadãos, praticam-na com os povos estrangeiros; que enquanto buscam paz na própria cidade, fazem guerra com as outras.
Percebe-se, portanto, que a citação de Hobbes envolve uma ideia muito mais ampla do que, simplesmente, a de que o homem é, por natureza e de maneira imutável, um inimigo dos outros homens. O pensamento é bem mais complexo e até ambíguo.
No entanto, transmitiu-se, por gerações, um pensamento bem mais simplificado, quase contradizendo o sentido original.
Esse caso mostra como mesmo uma citação célebre e replicada por séculos pode conter imprecisões consideráveis de sentido e erros de localização, quando não em relação a própria autoria.
Por isso, o estudioso sério deve sempre procurar as fontes originais das ideias, evitando assim ser um mero repetidor de equívocos seculares.
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