Muito além dos franceses

O Iluminismo francês é visto como um pai pelos intelectuais modernos. Isso não é por acaso. Como eles têm um apreço à rebeldia, ao antidogmatismo, ao materialismo e ao anticlericalismo, é natural que busquem suas origens naqueles que possuíam características semelhantes às suas, como Voltaire, Diderot, D’Alembert e companhia.

E como foram esses mesmos intelectuais que ficaram responsáveis por instruir as gerações atuais, não é de espantar que aprendamos nas escolas que o Iluminismo francês foi o guardião da racionalidade e do humanismo e o inaugurador da mentalidade esclarecida que lhe seguiu.

No entanto, a despeito dessa ascendência francesa sobre a ‘intelligentsia’, Gertrude Himmelfarb, em seu livro ‘Os Caminhos da Modernidade’, defende que, sobre o restante da sociedade, tal influência não foi tão grande como se pensa.

Na verdade, ela faz questão de lembrar que, no século XVIII, havia também britânicos e americanos desenvolvendo seus próprios iluminismos, exaltando valores semelhantes aos dos franceses e defendendo ideias parecidas com as deles. 

A diferença, segundo a historiadora americana, estava nos princípios. Enquanto os franceses exaltavam a razão como fundamento de suas ideias, os britânicos o tinham no senso moral comum e os americanos na liberdade individual.

Por isso, Himmelfarb conclui que os franceses não podem ser considerados os inauguradores dos tempos modernos. Afinal, suas ideias não foram as únicas, nem as primeiras, nem as mais influentes.

Na verdade, o que ela pretende é resgatar o Iluminismo do cárcere francês e restituí-lo aos seus verdadeiros criadores: os britânicos.

Essa sua obra, portanto, nos permite ter uma perspectiva muito mais ampla do que foi o ambiente intelectual do século XVIII ― muito além dos franceses ― e como ele delineou não apenas o pensamento posterior, mas as próprias instituições sociais e políticas do nosso mundo.

Lendo-a, compreendemos o nosso tempo não mais como mero rebento das ideias francesas, mas herdeiro de todo um ambiente maior de valorização do indivíduo e da razão.


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