A inteligência é naturalmente valorizada pelos homens. Basta ver como qualquer um se ofende ao ser chamado de ignorante. Ignorar é defeito, entender é virtude. Não por acaso, a mentalidade comum tomou a inteligência como adjetivo e o fato de chamar alguém de inteligente, um elogio.
A inteligência, nesse sentido, é vista como um estado, algo que se refere ao que a pessoa é, que a constitui. Considerando isso, parece descabido querer deixar de ser ignorante para ser inteligente. Se a inteligência é o que a pessoa é, desenvolvê-la não passa de uma vã pretensão.
No entanto, essa concepção estática da inteligência é um erro, porque longe de ser um estado, a inteligência se trata de um instrumento.
Tanto que a palavra “inteligência” vem do latim “intelligere”, que significa “inteligir”, ou seja, “interpretar”, “compreender”. Logo, inteligência é a ferramenta que nos faz inteligir a realidade, que nos ajuda a entender aquilo que observamos.
E como toda ferramenta, a inteligência pode ser bem ou mal usada; como toda ferramenta, pode ser melhorada ou mantida em seu estado natural; e, como toda ferramenta, pode ser feita mais adequada aos seus propósitos.
Por isso, o que diferencia os homens, neste aspecto, é exatamente o que fazem para aperfeiçoar a própria inteligência. Enquanto alguns se preocupam em desenvolvê-la, para compreender tudo melhor, outros simplesmente a preservam como a receberam, e acabam tendo à disposição como que uma tesoura cega nas mãos de um costureiro ─ uma ferramenta que continua tendo sua função, mas a executa mal.
Portanto, nada mais justo do que trabalhar para o desenvolvimento da inteligência. Fazer isso não é vã pretensão, nem arrogância, mas ─ pode-se dizer ─ uma obrigação ética. Afinal, se declaramos que a nossa vontade é no sentido de tornarmo-nos aptos para compreender as coisas, nada mais correto do que fazer do instrumento que nos permite isso mais propício ao cumprimento do nosso desígnio.
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