O movimento do qual fizemos parte teve como grande resultado o escancarar das portas da nação para que os ladrões e manipuladores tomassem o poder
Fui às ruas. Marchei ao lado de jovens que, como eu, reclamavam por algo que não sabíamos bem o que era, mas que tínhamos por certo. Fui, porque alguns, um pouco mais velhos que eu, diziam que esse era o caminho, essa era a solução. No sentíamos parte de uma grande revolução, algo inédito no país. Deixei por duas vezes minha sala de aula e corri para o meio da multidão. Ali, um paradoxo: eu era ninguém e ao mesmo tempo sentia-me parte de tudo. Para uma geração perdida como a minha, fazer parte daquilo dava, de alguma forma, sentido à existência.
O que eu não sabia é que estava sendo manipulado. E como saber? Não tinha ideia de como os Centros Acadêmicos estavam infiltrados de militantes esquerdistas, que, por sua vez, trabalhavam para seus líderes partidários. E mesmo que soubesse, faria tudo de novo, pois, para mim, a esquerda era a única defensora da verdade e dos sonhos.
Isso porque cresci ouvindo que passeatas, mobilizações, comícios e aglomerações eram sinal de que ali se encontravam homens de elevada nobreza, pois seus atos demonstravam preocupação pública, momentos que as pessoas mais alienadas jamais se envolviam. Sentia-me assim uma pessoa que se colocava em uma posição mais virtuosa, pois, segundo me ensinavam, era desse jeito que os homens de elevada estirpe deveriam se comportar. E eram os grupos de esquerda quem, invariavelmente, organizavam essas manifestações.
Marchei, gritei, apitei. O resultado, porém, foi catastrófico. O movimento do qual fizemos parte teve como grande resultado o escancarar das portas da nação para que os ladrões e manipuladores tomassem o poder. Eles, então, sequestraram o país. E, desde lá, veem implantando sua ideologia, sua falta de princípios, sua irreligiosidade, seu estatismo sufocante e indecente.
Poderia dizer que fui traído, mas não! Fui um idiota mesmo! Se, à época, tivesse lido mais, estudado mais, prestado mais atenção, dado mais razão aos princípios que aprendi na infância, não teria servido de massa de manobra desses que hoje dominam tudo no Brasil.
Se tivesse exigido que me explicassem o que queriam, quais eram seus verdadeiros interesses, qual era sua real visão da vida e da sociedade, talvez não tivesse sido conduzido por eles. Se exigisse deles propostas concretas e não abstrações, nem eufemismos, que servem apenas para inflamar corações, mas que não possuem conteúdo real, talvez tivesse ficado no meu canto e não contribuído para o que estamos nos tornando.
Nem toda mobilização é positiva, como nem toda aglomeração é má. Mas o que estão querendo? Essa é a pergunta que poucos se fazem. E, se fizessem, com sinceridade, veriam que tudo é apenas repetição de uma velha fórmula: uma liderança com sede de poder que usa uma massa de jovens frustrados, instigando suas decepções e seus vazios, sem promessas, sem propostas, apenas oferecendo, para eles, a chance de fazer parte de algo que lhes dê alguma razão para suas vidas insossas.
Essas coisas ocorreram comigo em 1992.
E a história se repete…
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