Os filósofos marxistas não sabem lidar com Olavo de Carvalho. Eles ficam desconcertados com ele que, no exercício de sua filosofia, parte daquilo que os marxistas consideram a base de seu tão querido materialismo: a realidade objetiva.
O materialismo dos marxistas nada mais é do que a consideração daquilo que é observável, direta ou indiretamente, como ponto de partida de suas considerações. Seus pensadores mais ortodoxos possuem o mérito de não duvidar dos fenômenos como eles se lhes apresentam. Seu problema, porém, reside no fato de terem esses fenômenos como o limite da realidade, negando a existência de qualquer coisa transcendente.
Assumidamente materialista, a filosofia marxista declara como seu inimigo número um o idealismo. Porém, engloba neste mais do que os idealistas estritos, como aqueles da tradição filosófica alemã dos séculos XVIII e XIX, que davam primazia à consciência em detrimento das coisas, mas considera também sob esta alcunha todos os que aceitavam a existência de realidades supra-materiais. Religiosos, teólogos, espiritualistas, subjetivistas, transcedentalistas e até mesmo realistas metafísicos – todos são colocados no saco do idealismo. Assim, esperam encontrar em Olavo de Carvalho mais um dentre estes, aos quais estão mais do que treinados em enfrentar.
O filósofo forjado no marxismo aprende a pensar a realidade como tudo aquilo que está fora do sujeito e que pode ser, de alguma maneira, verificável. Sua noção de realidade é material. Tudo, para ele, parte da matéria e tudo termina nela, inclusive o próprio sujeito. E é exatamente nesse ponto que Olavo de Carvalho desconcerta-o. O filósofo marxista espera que Olavo, um católico confesso e aberto ao espiritualismo e à transcendência, parta, em seus argumentos, de sua fé, de suas próprias convicções ou da autoridade dos dogmas e das tradições. No entanto, Olavo os confunde ao, à maneira marxista, iniciar sua reflexão filosófica a partir dos fatos, das coisas, do senso comum, daquilo que é identificado imediatamente como realidade, do observável. Neste ponto, ele, ao mesmo tempo que se alia à tradição aristotélico-tomista, não pode ser tido pelos marxistas como um adversário.
A diferença da filosofia olaviana e a dos marxistas está menos de onde partem e sim para onde vão. É que aquela não se circunscreve dentro dos limites onde esta se detém. Olavo parte do observável, mas não tem medo de ir até o infinito.
O problema, para os marxistas, é que eles ficam sem ter como contestá-lo, porque o filósofo assume boa parte das premissas que eles aceitam, separando-se deles principalmente no desenrolar de suas deduções. Na verdade, são os marxistas que se limitam quando assumem como princípio que tudo é matéria. Ao fazer isso, eles podem até começar como qualquer outro realista, mas ficam impedidos de seguir adiante, principalmente quando, para entender a verdade, isso se faz mais necessário.
É muito fácil, para um marxista, contestar um espiritualista, um subjetivista, até um idealista, acusando-os de negarem a realidade ou de viverem com a cabeça longe do chão. Quando, porém, se deparam com alguém que não nega o que vê, que tem o senso comum como partida, não sabem o que fazer com ele. Quando observam Olavo de Carvalho, ficam perdidos, pois têm consciência que estão lidando com um homem que tem os pés bem firmados no solo e a cabeça bem grudada no pescoço, ainda que sem medo de voar até os mais altos céus.
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