A formação de um bom orador vai muito além do desenvolvimento de sua fala. Basta considerar que a fala é apenas a expressão do pensamento, portanto, é a ponta final de um processo que se inicia muito antes da verbalização.
Se testemunhamos uma infinidade de oradores medíocres, isso deve-se menos a algum problema na capacidade de falar, mas principalmente por uma formação intelectual defeituosa.
Quando Quintiliano, em sua Instituição Oratória, afirma que “para a oratória, tudo importa”, ele apenas está ressaltando que a boa comunicação é fruto de uma preparação intelectual, cultural e moral do indivíduo que, idealmente, deveria ter início ainda na infância.
É por esse motivo que sua obra aborda muito mais do que as técnicas e conhecimentos necessários para falar bem; ela imiscui-se nos meandros da pedagogia, do aconselhamento e do treinamento intelectual que são como que o alicerce indispensável para preparar um grande orador.
Em minha atividade como professor de Oratória, essa abordagem ampla é o que tem me inspirado. Por isso, não me detenho no ensinamento apenas do que se deve saber para falar bem em público, mas preocupo-me com o fortalecimento da vontade, do descobrimento dos melhores meios de estudo, do desenvolvimento da capacidade lógica e dos métodos para a organização do pensamento.
Mas não tenho escrúpulos de ir além e tratar de temas que, em princípio, podem parecer distantes da formação de um bom orador, como a reflexão analítica e a espiritualidade. Afinal, como diz o mesmo Quintiliano, “a maior parte da eloquência reside no espírito”.
O fato é que tudo importa para o orador. Até porque falar não é uma opção, mas o exercício essencial da vida em sociedade e o elemento primordial da própria construção de qualquer civilização.
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