Com aquilo que esperamos demais, tendemos a ser mais exigentes. Quando aguardamos muito de algo, a chance de nos frustrar aumenta consideravelmente. Sobre aquilo que acreditamos ser superior, criamos as maiores expectativas. Além disso, costumamos confundir as pessoas com as instituições das quais elas fazem parte, lançando sobre aquelas toda a esperança que depositamos nestas.
Nisto, portanto, estão postas as condições para as constantes decepções com os grupos humanos. Essa é a razão para o quase inevitável desapontamento, inclusive, com a Igreja. Ao esperar que os membros sejam o reflexo exato da superioridade e virtude da comunidade, lança-se sobre eles as qualidades que não lhes pertence pessoalmente.
O fato é que, no caso da Igreja, as pessoas que dela fazem parte não representam uma elite em nenhum sentido. Não são superiores, como indivíduos, nem moral, nem intelectual, nem espiritualmente. São, sim, apenas agraciados que aceitaram o dom divino e, de alguma maneira, estão esforçando-se para manter-se sob ele. Não há virtude na mera recepção de um presente e aqueles que fazem parte da Igreja possuem o único “mérito” de aceitá-lo.
A Igreja não é formada por santos, mas por pecadores. Quando Cristo afirma que veio para os doentes, não significa que aqueles que o aceitassem estariam imediatamente curados (se assim fosse, não pecariam mais), mas que seriam iniciados em um processo de cura. Isso quer dizer que, mesmo sob a graça divina, permanecem, de alguma maneira, enfermos, se bem que em convalescença.
A compreensão dessa realidade nos torna, obviamente, mais tolerantes com os erros cometidos pelos fiéis. Quando entendemos que a Igreja está menos para uma confraria de iluminados e mais para uma casa de recuperação, nos tornamos mais tolerantes e compreensivos. Em um asilo, podemos até achar que algumas atitudes cometidas ali são insanas, o que não podemos é nos surpreender com isso.
Um olhar tolerante, porém, não significa corroboração às imbecilidades com as quais periodicamente nos deparamos. Representa apenas a compreensão de que a realidade é mesmo assim. Mais ainda: de que nós não somos os médicos, mas os pacientes.
Publicado originalmente no Teologosofia
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