“Os que seguem rumo à eternidade celeste, os quais antes estavam mortos em seus delitos e pecados, que eram levados segundo o curso deste rio que é o mundo, receberam vida em Cristo e, com as forças oriundas do Espírito, agora podem mover seu ser em direção à fonte da vida”
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A perfeição é dada, ao homem, como o alvo a ser alcançado. Nada menos do que a imagem de Cristo é posta para aqueles que desejam partilhar a eternidade ao seu lado. E sendo ela, assim, tão distante do que tens agora, não é de surpreender se tu, no meio do caminho, pensares em olhar para trás.
Isso porque o estranhamento com uma proposta inexequível faz qualquer um desanimar. Aquilo que não é alcançável, não deve ser perseguido – pensam os homens. Que sentido pode haver na busca de uma impossibilidade? Não seria apenas um fastio desnecessário e um esforço inútil?
Com efeito, o caminho da perfeição é a luta contra a correnteza de um rio. O esforço é evidente, a subida parece impossível e todas as forças empurram para trás. Debater-se não é sábio. Se decides seguir rumo ao destino supremo, tua única opção é nadar e nadar e nadar.
Muitos, porém, são como madeiras mortas. Lançadas no rio, são levadas pelo seu curso. E o fim é o oceano onde todos são ninguém, e tudo é amargo, e há uma multidão de seres, e a morte é o destino.
Porém, os que seguem rumo à eternidade celeste, os quais antes estavam mortos em seus delitos e pecados (Efé 2.1), que eram levados segundo o curso deste rio que é o mundo, receberam vida em Cristo (Efé 2.5), e, com as forças oriundas do Espírito, agora podem mover seu ser em direção à fonte da vida.
Nesta fonte, de onde se afastam as águas mundanas, se encontra o descanso perene, que acalma a alma, que lava o espírito e que renova o corpo. Para ela aqueles que conheceram a verdade se dirigem, ainda que em batalha contra as forças que, na direção contrária, arrastam tudo o que se lança em seu curso.
As forças dessas águas, de fato, são demasiado fortes. E quanto mais distantes da fonte, mais impetuosas se tornam. Por isso, aqueles que iniciam o caminho de subida desse rio, sentem que lutar contra elas é inútil. Muitos, inclusive, desistem e deixam-se levar de volta para o lugar de onde partiram. O senso de impossibilidade permanece e muitos, com isso, crêem que se o que é perfeito tão longe está, melhor é manter-se até o dia em que o rio desta vida secará.
O que não percebem é que o homem não é, de maneira alguma, um ser estático. Por causa de sua própria estrutura está em movimento constante, em mudança contínua. Portanto, se não prosseguir na subida deste rio, em busca da fonte da existência, de onde emana a perfeição e onde encontrará a paz eternal, as tenebrosas águas o conduzirão de volta ao velho mar de pecado.
Tu, porém, não és dos que retrocedem (Heb 10.39) e ainda olhas para o teu fim. Por isso, ainda que não chegues à fonte, ao menos, a fim de evitar seres levado de volta à vida antiga, deves continuar subindo esse rio. Se parares, se tentares manter-te onde estás, não é o resgate que virá, mas as quedas abismais que conduzem ao oceano da iniquidade e da perdição.
Quando as águas, porém, forem impetuosamente fortes, quando a correnteza desta vida arrastar em direção ao passado de incertezas e medos, quando o curso deste mundo levar para longe da fonte de toda a existência, não adianta debater-se. Quem faz isso, termina por sorver as águas da mundanidade, afogando-se nos negócios desta terra.
Contra as forças desta vida, a única opção é a colaboração ordenada de teu corpo e teu espírito. Este, mantendo-te na decisão firme de seguir em direção ao teu objetivo e aquele servindo como instrumento para não afogar-te nesta vida. Assim, com alma e membros ordenados, ainda que não chegues ao teu destino, ao menos, não permitirás que as águas te traguem.
Não te assustes, porém, com os homens que vires sendo levados pelo rio, nem com as madeiras mortas trazidas pela correnteza. Apenas suba-oo, porém não com os olhos mergulhados em suas águas. Muitos, ainda que certos de estarem seguindo rumo à fonte, por nadarem com o rosto submerso, acabaram atingidos pelo que vinha arrastado, e arrastados foram para longe do Criador.
Te aconselho, somente, que abandones os fardos. Se quiseres subir rumo à eternidade, quanto mais peso levares contigo, mais difícil será esta empreitada. Pior, eles podem afundar-te. Portanto, larga o que é inútil, livra-te do desnecessário, deixa que o rio leve teus pecados, teus receios e tuas obsessões para o mar profundo, de onde Deus jamais irá tirá-los. Este é o mar do esquecimento.
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