Se há uma determinação bíblica para o arrependimento, para a conversão, para a escolha em favor de uma vida virtuosa, de uma vida com fé, isso significa que há, dentro de cada pessoa, a capacidade de decidir seu destino. Portanto, pode-se dizer que o que somos, e o que nos tornamos, é, de alguma maneira, fruto das escolhas que fazemos. E nestas escolhas se encontram, não apenas as atitudes a serem tomadas, as decisões práticas da vida, como a profissão que devo escolher, com quem devo casar ou qual igreja frequentar, mas (e, talvez, principalmente) os conteúdos que serão assimilados no decorrer da existência e que, certamente, irão moldar a forma de pensar, a própria visão das coisas e do mundo.
Por isso, a importância de não ser um personagem passivo na relação com aquilo que será absorvido durante a vida. A pessoa não pode, simplesmente, deixar com que os conteúdos venham até ela, sem qualquer critério, sem que haja uma seleção, sem refletir sobre a conveniência, sobre a utilidade do que está absorvendo. Se o indivíduo é o responsável por sua vida, então essa responsabilidade inclui também aquilo que ele consome e que irá, certamente, refletir em seu próprio caráter.
É por isso que o apóstolo Paulo, em sua carta à Igreja em Filipos (Fp 4.8), aconselha as pessoas a pensar naquilo que é verdadeiro, honesto, puro, amável e de boa fama. Ele insiste que nestas coisas elas devem meditar, nelas devem refletir. E esta não é uma mera determinação moral, mas um aconselhamento prático que, acatado ou não, aí, sim, trará consequências morais óbvias, apesar de diferidas.
Isso porque o que nós pensamos acaba sendo, de alguma maneira, aquilo que nós somos. E o que se encontra nas palavras de Paulo é o reconhecimento de como aquilo que nós absorvemos e recolhemos dentro da nossa mente acaba sendo o que irá definir quem nós seremos.
Nisto, fica evidente a seriedade da escolha que fazemos em relação aquilo que lemos, ouvimos e vemos. E também, obviamente, daquilo que deixamos de ler, ver e ouvir. Porque algumas pessoas acabam acreditando que, se o que absorvemos pode nos prejudicar, é melhor não absorver nada. Grande erro!
O problema é que não assimilar nenhum conteúdo é impossível. Quem não seleciona o que consome, o que absorve, se torna um sujeito passivo, assimilando, ainda que de maneira inconsciente, tudo o que aparece em sua frente. Não há como se fechar às influências externas, para os dados com os quais se deparam cotidianamente. O máximo que se pode alcançar é tornar-se consciente desse processo e tentar separar o que deve ser absorvido daquilo que deve ser rejeitado.
O preceito bíblico aqui trata exatamente dessa capacidade humana de escolher o que pode ser bom e útil, e rejeitar o que é prejudicial. É importante frisar que o texto não trata apenas de rejeição, mas de escolhas. O que o apóstolo aconselha é que as pessoas pensem naquilo que eleva, que conduz a uma vida superior, que aproxima da verdade e de Deus.
No fim das contas, a Bíblia está afirmando que o homem se transforma naquilo que ele pensa. Se pensa em coisas boas e superiores, vai se tornar alguém elevado e superior. Porém, quem enche a cabeça de lixo, não tenha dúvida alguma, que é em lixo que irá se transformar.
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