Não há pior maneira de entender o pensamento de alguém senão por meio de um debate. Quem já assistiu algum destes sabe muito bem que, geralmente, não passam de algumas horas enfadonhas de tentativas, quase sempre infrutíferas, de marcar presença, seja com uma frase de efeito, um pensamento memorável, uma piadinha bem colocada ou uma intervenção pontual marcante. O que os debates conseguem oferecer são, no máximo, alguns poucos momentos a ser recordados e muitos outros completamente dispensáveis.
O fato é que debates, quase sempre, são inúteis. Se o objetivo, como costuma se alegar, é conhecer melhor as propostas dos candidatos e entender mais profundamente seus planos de governo, o debate é o pior modelo possível a ser escolhido.
Isso porque em debates o que prevalece é o jogo retórico. As partes disputantes têm como objetivo primeiro a vitória, por consequência, a imposição da derrota do adversário. E quando alguém busca a vitória, não é a exposição detalhada de si mesmo(de seus pensamentos e planos) que aparecerá, mas atalhos retóricos que sirvam para desmoralizar ou desqualificar o oponente.
O que se forma em um ambiente de debate é a disputa, uma guerra retórica. E nesse clima não há espaço para o detalhamento de nada. São apenas acusações, perguntas com o intuito de confundir, frases de efeito e muita, muita enrolação, com números, estatísticas e dados que não dizem nada – mas servem muito bem para esconder os assuntos de fundo.
Além disso, o formato proposto nos debates atuais não permite qualquer tipo de aprofundamento. O tempo é exíguo e não há espaço para a apresentação de nada além de ideias gerais.
Por isso, insistir que os debates são essenciais para o processo democrático é pura balela. Pelo contrário, comparado com as formas de comunicação existentes hoje em dia, esses debates são completamente dispensáveis. São apenas resquícios de um tempo antigo, quando a tv era a única forma de comunicação em massa.
Com a internet, na verdade, não há mais nenhuma necessidade que candidatos se enfrentem no modelo de debates como foram feitos nos últimos trinta anos. Hoje, esses candidatos têm a oportunidade de falar diretamente com o público – sem filtros e sem pegadinhas. Além disso, podem explorar os assuntos a ser expostos sem qualquer restrição de tempo.
Essas formas novas de comunicação são, no fim das contas, o sonho democrático. Aquilo que era feito na ágora, com a elite pensante grega, que passou a ser replicado nas câmaras de representantes desde a Roma Antiga até os nossos dias, agora, de alguma maneira, pode envolver todo mundo. Se esse é o ideal da democracia, ou seja, um governo com a participação de todos, então a internet é o instrumento que permite isso.
Quem diz, portanto, que os debates de tv são essenciais para a democracia ainda não entendeu – ou finge não entender – que os tempos mudaram. Agora, nós, o povo, não precisamos mais de intermediários para ter acesso aos nossos representantes. Não é preciso mais editores, âncoras e mediadores para levar até eles nossas perguntas. Também não precisamos mais de empresas de mídia para nos mostrarem esses políticos.
Agora, que eles venham até nós. Que eles aprendam a falar conosco diretamente. E que nós os julguemos segundo a verdade que eles nos transmitam. Se todos os lados precisam aprender a usar esses novos instrumentos de maneira plena é outra questão.
O fato é que vivemos um novo tempo para a comunicação política e quem não se adaptar a ele, certamente, morrerá.
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