Polidos selvagens

Não adianta nada, na vida privada, usar das expressões mais vulgares e não possuir nenhuma preocupação estética na construção das próprias frases que emite, mas exigir de governantes e autoridades que falem como lordes ingleses. Isto é hipocrisia.

Uma sociedade que incentiva o pudor linguístico público, inexistente em seus círculos íntimos, faz de seus cidadãos facilmente manipuláveis. Basta surgir um engravatado, falando suave, afável e educadamente, que todo mundo acha que tem o dever de respeitá-lo. Assim, quem quer foder a vida das pessoas sabe que só precisa aprender a falar bonito.

Exaltar demais a polidez na expressão faz da pessoa como uma donzela iludida, que prefere a doce voz do canalha ao jeito grosseiro do sincero. Gente assim se incomoda com a maneira de falar mais contundente de homens como Jair Bolsonaro e Abraham Weintraub, mas se submete a psicopatas como Lenin, Stalin, Mao e Fidel, que, ao mesmo tempo que tiranizavam multidões, sabiam se expressar graciosamente e demonstrar cortesia.

Vamos ser sinceros? A sensibilidade em relação à linguagem alheia geralmente é só jogo de cena; é apenas uma maneira de se fingir civilizado enquanto, junto aos familiares, amigos e colegas de trabalho, age e fala como um selvagem.


Comentários

Uma resposta para “Polidos selvagens”

  1. Avatar de Neemias Félix
    Neemias Félix

    CEGUEIRA DA DESATENÇÃO?

    Neemias Félix 

    Um dos recursos mais usados pelos mágicos para nos enganar com seus truques é a cegueira da desatenção. É simples: eles nos induzem a focar em algum ponto malandramente determinado, enquanto outras coisas passam despercebidas, principalmente os movimentos das mãos. É o que se chama prestidigitação.

    Menciono isso para ilustrar como nossos debates nas redes sociais podem nos levar a grandes confusões, textões sem sentido, tergiversações, falácias, enfim, pouquíssimas conclusões úteis e nenhum conhecimento apreendido, nenhuma mudança de posição ou opinião. Fanatismo, orgulho ou analfabetismo funcional já são montanhas inamovíveis nesses embates, mas a cegueira da desatenção pode contribuir muito para resultados infrutíferos.

    Basta uma passada rápida pelo “feed” para ver quanto o episódio da divulgação do tal “vídeo-bomba” liberado pelo ministro Celso Mello ganhou comentários descabidos e estapafúrdios. É impressionante como na bolha dos adversários políticos e dos isentolefts os palavrões do Presidente ganharam uma importância, uma magnitude extraordinária, enquanto a questão fundamental e geradora de tudo desapareceu do foco das preocupações: afinal, o Presidente interferiu ou não nos incognoscíveis recônditos da Polícia Federal?

    Do mesmo modo, perguntas imprescindíveis foram deixadas de lado: O ministro podia mesmo requisitar a fita de uma reunião privativa, restrita, exclusiva do Presidente e seus ministros? Em qual país do mundo uma invasão de privacidade desse tipo foi praticada? Como ficam, a partir dessa decisão, as reuniões de empresas competitivas ou de famílias? E as reuniões eclesiásticas, os sínodos e concílios? Que tal pensar também nas reuniões da Maçonaria? Essa prática pode se estender às alcovas para determinar os hábitos e preferências sexuais dos casais ou estou exagerando? No ritmo em que as coisas vão… Que tal o povo reivindicar as reuniõezinhas secretas dos ministros do Supremo? Já que foi divulgada a bendita reunião ministerial, era necessário exibir mais de vinte minutos? Por que não apenas os dois ou três minutos da fala do Presidente, ou seja, aqueles relativos à questão da interferência?

    Aos comentaristas que reclamam dos plebeísmos e palavrões do Presidente, cuja divulgação nunca se pretendeu veicular aos 209 milhões de brasileiros, portanto não existiriam oficialmente, assim como nossos flatos barulhentos no banheiro não interessam aos nossos vizinhos,  pergunto: Nunca participaram de reuniões restritivas de determinados grupos ou, pelo menos, nunca assistiram a alguma, não? Nunca viram um chefe ou um membro indignado, exaltado? Nos quebra-paus das famílias, das escolas, dos conselhos de classe, das associações, dos sindicatos e até das igrejas, todo mundo é comportadinho, cortês, não há cobrança, discussões acaloradas e até palavrões? Gostariam que aquilo que chamamos de “lavar roupa suja em casa” fosse escancarado pra todo o mundo saber? Em que mundo esses míseros pecadores que somos estamos vivendo? No dos anjos?

    Pois é. Quando se tira o foco do principal, o mais importante tem relevância zero. Por isso os mágicos deitam e rolam em cima dos cegos pela desatenção. Os desonestos também.

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