Perseguição anticristã e as causas do silêncio ocidental

A perseguição contra cristãos não é um fenômeno recente. Desde há várias décadas, principalmente em países islâmicos, e também nos antigos e atuais regimes comunistas, igrejas são atacadas, ministros presos e torturados, convertidos expulsos de suas casas e reuniões proibidas. O que estamos vendo, portanto, no Egito não é, de maneira alguma, fenômeno novo. Há instituições, como o Portas Abertas, que informam sobre esses fatos há vários anos.

O que chama a atenção diante desse morticínio que ocorre há tanto tempo, porém, é o silêncio da mídia ocidental. Com exceção de umas pequenas notinhas esporádicas, quase sempre transformando a perseguição em conflito religioso (o que dá a impressão de tratar-se de mortes de guerra e, assim, escondem a natureza covarde da perseguição), nada mais se lê sobre isso em jornais, revistas e, menos ainda, na mídia televisiva.

Mas, além da ocultação da mídia, mesmo o povo cristão ocidental pouco se sente sensibilizado com o que ocorre pelo mundo contra seus irmãos de fé. Com exceção de figuras isoladas, a grande massa de evangélicos e católicos, ainda que tenham ouvido falar que há cristãos pelo mundo que são torturados e mortos por conta de possuírem a mesma fé que eles, no máximo conseguem dizer: “Rezemos!”, e ligam a tv para assistir o próximo programa alienante que retome o entorpecimento cotidiano de suas mentes.

Tal reação ocidental em relação à perseguição de cristãos pelo mundo não é, porém, fruto do acaso. Na verdade, é a vitória definitiva de um trabalho de modelamento cultural que sempre teve o objetivo de, por paradoxal que seja, demonizar o próprio cristianismo.

Desde o Iluminismo, o que se propaga é que a Igreja sempre foi opressora, sanguinária e corrupta. No século XIX propugnou-se que ela era escravizadora e contra o desenvolvimento científico. Desde o início do século XX vendeu-se a ideia de que ela é alienante e impede a liberdade do indivíduo. Se você nunca ouviu esses argumentos contra a Igreja é porque sua vida intelectual é nula. Em qualquer sala de aula colegial, em qualquer universidade, até, pasmem, em escolas dominicais de estudo bíblico e, pasmem mais ainda, até em catecismos isso já foi repetido.

O homem ocidental moderno e o cristão ocidental moderno veem a Igreja tradicional como algo a ser superado. Até querem ser cristãos, mas sobre novos fundamentos. Pretendem viver um cristianismo tolerante, politicamente correto, socialista – insípido, enfim.

Tudo isso, portanto, é algo que acabou se impregnando em nosso imaginário. A cultura anticristã venceu! O mundo ocidental, se ainda possui alguma religiosidade, esta apenas sobrevive deitada sobre alicerces modernos, com ideias modernas. A Igreja atual é a negação da própria Igreja. O crente contemporâneo busca valores que estão em conflito com os valores da Igreja. Basta observar a sede por conquistas materiais, por sucesso e reconhecimento. Basta ver a quantidade de cristãos que se aliam ao esquerdismo, que repetem os chavões da filosofia ateia do socialismo, que acreditam que Jesus e Marx possuem os mesmos fins. Não custa ressaltar a lassidão moral, o relativismo e materialismo que moldam o caráter de boa parte dos fiéis.

E se a própria cristandade se encontra assim, quanto pior não está a sociedade? Com a mentalidade ocidental moldada dessa maneira, não há como essa sociedade se sensibilizar com a morte de cristãos pelo mundo. Afinal, estes são simplesmente representantes de uma religião opressora, sanguinolenta e escravagista. Talvez sequer pense nessas coisas, afinal esse cidadão moderno é vazio demais para refletir sobre tais assuntos, mas, sem dúvida, a percepção que tem do cristianismo é de uma religião que não merece compaixão, pelo contrário, talvez deva ser extirpada mesmo da face da terra.

Portanto, o silêncio do oeste é, por um lado, proposital e calculado, por outro, porém, é apenas o reflexo de muitos e muitos anos de criação de uma antipatia contra o cristianismo que quedou-se impregnada na alma contemporânea. Ouvir que cristãos são perseguidos não causa mais do que uma mera curiosidade insensível. Afinal, quem mandou se aliarem a uma religião, assim, tão malvada?

Resta, para aqueles que, por algum motivo, não foram totalmente afetados pela aculturação anticristã, tentar preencher a lacuna de informações sobre o morticínio de cristãos pelo mundo e, por outro lado, influenciar positivamente a cultura, mostrando a história como ela mesma se deu. Neste ponto, qualquer mínima vitória deverá ser comemorada.


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