Quando houver a impressão de que apenas a sua percepção está captando algo que todo mundo parece ignorar, saiba que provavelmente é você quem chegou atrasado; outros captaram antes.
Há os que, enganados pela convicção de que o que sabem abarca quase toda a realidade, ao se depararem com o que até ali não conheciam, presumem que se trata de algo realmente novo. Não percebem que – como geralmente acontece – outras pessoas viram o mesmo. Assim, transformam sua própria ignorância em pioneirismo.
Outrossim, abundam os profetas que, crendo-se portadores de um conhecimento original, insistem para que a humanidade os ouça, a fim de que sejam conhecidas as novidades que apenas eles possuem. Acreditam que são iluminados e que o que pensaram é fruto de uma vocação única. Contudo, não passam de replicadores inconscientes do que a humanidade lhes legou.
E esse orgulho de crer-se conhecedor de realidades insondadas leva o pretenso vanguardista ao isolamento, pois sente-se incompreendido em sua percepção original. Ao mesmo tempo, torna-o arrogante, insuflado que é pela certeza de ser agraciado por uma revelação única.
A experiência mostra, porém, que há pouco nesta existência que possa ser considerado inaudito. Quase tudo já foi percebido, pensado, debatido, divulgado. O que se diz já se disse, o que se propõe já foi proposto alguma vez.
Se os filósofos e teólogos entendessem isso, haveria muito menos fantasias vendidas como idéias. E as pessoas seriam muito menos solícitas com os pregoeiros de extravagâncias que se apresentam de tempos em tempos.
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