Quando vês uma mente pequenina, arde em ti um desejo de possuí-la. Sua inocência te atrai
Quando vês uma criança, não enxergas nela a pureza da inocência, nem a simplicidade da infância, mas apenas imaginas o quão útil ela poderá ser à tua causa. Imaginas quando ela for adulta, formada segundo tuas convicções, moldada segundo tua ideologia, defendendo as causas que tu colocaste em sua mente. Tu não vês uma criança apenas em sua realidade presente, mas esforça-te por prepará-la para o mundo futuro, a ser construído segundo teus preceitos.
Se fazes isso, porém, não o fazes por invenção tua. Teus antepassados te ensinaram bem. Lembra-te como o fascismo, seja nazista, seja comunista, aliciou milhares de jovens para lutarem em suas hordas. Vendeu-lhes ideais de redenção, ao preço do seu próprio sangue, entregando-lhes a derrota amarga de serem apenas servos do Estado, sem nome, sem família, sem esperança.
Essa tua obsessão com a infância é deveras antiga. Todos os utopistas a expressaram. Todos eles imaginavam um futuro quando as crianças seriam esculpidas segundo a imagem de seus mundos perfeitos. Para eles, os jovens deveriam ser a expressão do Estado, a manifestação viva da ideologia posta, o reflexo do mundo ideal imaginado por alguns cérebros doentios.
Nenhum daqueles sonhadores conseguiam ver os pequenos apenas em seu estado atual, em sua criancice pura e inocente, em sua despreocupação com qualquer caminho futuro, mas ao olhar para eles, somente conseguiam enxergar o que seriam no futuro, como serviriam melhor a ideologia e como prepará-los para isso.
Ainda hoje é assim. Tu tens teus fetiches, tuas taras, teus desejos. Defendes teus supostos direitos de manifestá-los publicamente, não apenas verbalmente, mas fisicamente ainda. Sonhas com um mundo no qual tuas infâmias serão glorificadas e tuas iniquidades louvadas. Então, desde já, trabalhas arduamente na construção dessa sociedade que é ideal apenas para os teus.
Para isso, porém, não basta tentar convencer teus opositores. Esta é uma luta inglória, já que teus argumentos são frágeis diante da realidade que se impõe. Então, quando vês uma mente pequenina, arde em ti um desejo de possuí-la. Sua inocência te atrai. Te imaginas tomando seu cérebro, penetrando nos recônditos de sua imaginação e inseminando, ali, o que há de mais profundo em tuas próprias fantasias. Queres com isso, não compartilhar o que tens, mas depositar tua morbidez, fazendo com que, já naquela mente infante, esteja a semente do homem perfeito – segundo a tua imagem e semelhança.
Canso de ver homens que se dizem sérios enaltecendo os pequenos, louvando-os como se eles fossem a solução do futuro, lançando sobre eles a responsabilidade da correção deste mundo. Não percebem que o que estão fazendo é impedí-los de serem o que são, de viver apenas o dia, sem a preocupação tão comum às mentes já cansadas.
Se, segundo o ensinamento de Cristo, não devemos nos preocupar com o dia de amanhã, começamos a entender porque da boca dos pequeninos ouvimos o verdadeiro louvor. Na simplicidade do viver presente, na despreocupação com os caminhos futuros e na aceitação da realidade como ela é encontramos a essência da pureza infantil. Transgredi-la é um crime e aquele que faz tropeçar um destes pequeninos é melhor que amarre uma corda no pescoço e lance-se ao rio
Se lutamos firmemente contra tais investidas é porque os homens de bem têm obrigação de defender suas crianças contra os ataques vorazes desses lobos vestidos em peles de cervos. Se for para impedir que os indefesos sejam devorados por esses animais, não devemos hesitar em abatê-los usando de todas as armas intelectuais que nos estão disponíveis.
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