Quando a intenção é convencer que o problema da epidemia é sério, os patrocinadores do pânico não economizam as expressões mais agudas. Assim, deixam claro, para a plateia descrente, o quanto é preciso estar convencido da gravidade da situação.
Nessa cavalgada apocalíptica, não se satisfazem com a mera descrição dos fatos (principalmente, porque esses fatos não corroboram seu alarmismo), mas laçam mão de um tom extremamente dramático, com o intuito, não de informar, mas de chocar o ouvinte ainda resistente ao pânico.
O tom usual é o mais emocional possível. O objetivo é despertar sentimentos histéricos. Recorre-se então a frases de efeito que constranjam o interlocutor a render-se ao sentimentalismo obrigatório, sob pena de ser tachado de insensível.
Não são meros arroubos retóricos, mas escolhas de expressões muito bem selecionadas selecionadas, com o intuito de revelar o quanto é sensível o seu pronunciador e frígido quem não embarca em sua jornada de horror.
“Famílias dilaceradas”, em vez de “mortes”; “epidemia devastadora”, em vez de “doença séria”; “choramos as vidas interrompidas”, em vez de “lamentamos os falecimentos” – são exemplos de escolhas de formas de expressar, que têm o claro objetivo de causar impacto, não expor uma realidade.
O fato é que a definição da forma de expressão indica as intenções de quem fala. O tom retórico impingido denuncia o intuito disfarçado.
Em geral, o uso da emoção é recurso retórico legítimo. Porém, quando usado não como mera ênfase, mas como forma de desenhar, com traços ainda mais dramáticos, uma situação que já é séria, sinaliza um propósito manipulatório.
Uma pessoa honesta respeita os fatos, dando a cada um deles a denominação devida. Um manipulador ultraja-os, manejando-os de maneira a servirem seus interesses.
Por isso, esteja atento a quem descreve os fatos com entoação muito catastrófica. Se o discurso for excessivamente emocional, pode ter certeza que por trás dele há alguém tentando lhe manipular.
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