Nós procuramos a verdade, mas pode acontecer que procuremos instintivamente as verdades mais extraordinárias.
E não foi isso que fez a intelectualidade ocidental nos últimos quinhentos anos? Desde que tentou se desapegar do dogmatismo teológico e das amarras da religião, não foi ela quem buscou na fantasia as respostas para suas indagações?
O intelectual moderno já não suporta a vida ordinária. Para ele, ela representa o comprometimento com o pensamento retrógrado, com uma visão ultrapassada, que precisa ser superada. Entende, com isso, que a verdade (se é que ela existe) não pode residir nessa normalidade reacionária, mas deve ser buscada nos sonhos utópicos e nas elocubrações fantasiosas.
Diante disso, o que Gilbert Chesterton tenta nos mostrar em seu livro ‘Orotodoxia’ é que o que há de mais incrível não está nas ideias revolucionárias, mas naquilo que existe desde sempre. O que a humanidade sempre reconheceu como real é aquilo que contém a força da verdade, que é, por si mesma, poderosa e instigante. É no pensamento tradicional que se encontra a altura e a profundidade do real, com todo sua força e mistério.
Enquanto pensadores se esforçam por buscar no fantástico as explicações para suas indagações existenciais, as respostas se encontram na normalidade experimentada por todas as gerações. Como o navegador inglês que buscou uma aventura em terras estranhas e acabou aportando na própria Inglaterra, Chesterton descobriu que seu esforço por proferir grandes verdades, que ele acreditava ser suas, levou-o apenas a reconhecer que essas verdades simplesmente não eram dele, mas pertenciam à toda uma tradição ocidental.
A existência é normal e incrível; faz-nos sentir assombrados e, ao mesmo tempo, acolhidos. Nela, o ordinário e o misterioso se misturam. Assim, saber desfrutar essa dádiva é a nossa missão. E esse é o objetivo do Ortodoxia: mostrar como temos diante de nós um conhecimento tão profundo e tão rico que buscá-lo em quimeras é um erro. O livro do nosso mundo está aberto e é tão cheio de ensinamentos que ignorá-lo é uma grande estupidez.
Se queremos ficar mais inteligentes, portanto, devemos antes olhar para o conhecido, sabendo que por trás dele há muito ainda a ser revelado.
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