É uma percepção quase universal de que as mulheres têm mais facilidade de fazer parte dos movimentos eclesiásticos cristãos. Principalmente, no tempos modernos, são elas que dominam a cena nas igrejas e nas comunidades espalhadas por todo o mundo. Antigamente não fora muito diferente. Por toda a história eclesiástica as mulheres tiveram um papel dentro de Igreja de muita relevância, até mesmo sensivelmente maior do que tinham na própria sociedade.
Isso pode ser explicado pela própria linguagem evangélica. Da Igreja é dita que é a noiva de Cristo, aquela que é adornada por ele, tratada com um amor de alguém que dá a vida por ela. Mesmo na analogia que é feita com o livro de Cantares de Salomão, a Igreja está representada ali pela mulher.
Obviamente, essas referências refletiram-se no própria liturgia e na relação das pessoas com Deus. Muitas palavras, canções e costumes colocam os fiéis na posição passiva da relação. Dessa forma, expressões que não são comuns aos homens proferirem, no ambiente religioso são faladas abundantemente.
Para uma mulher, tudo parece absolutamente natural. Se referir a Deus como aquele que a protege, que cuida dela, que a abraça quando está triste, que a carrega quando está cansada, a quem ela ama e lança-se em seus braços, não causa qualquer estranheza.
Os homens, porém, podem até falar as mesmas coisas, mas certamente elas não soam tão naturais. A natureza masculina costuma ver-se como o lado forte da relação, aquele que fornece a segurança, quem se preocupa, que corre o perigo por sua protegida. Colocar-se no outro pólo desse espectro é um exercício difícil e anti-natural.
Não é de se estranhar, portanto, a maior dificuldade que os homens possuem em abrir-se mais nos ambientes religiosos e doar-se sem reservas aos costumes eclesiásticos. Tudo ali lhe parece uma negação de sua própria natureza, um confronto entre sua realidade cotidiana e aquela específica da Igreja.
É verdade que há aqueles que conseguem abrir-se sem reservas e há outros que criam uma síntese, pela qual logram adaptar suas tendências naturais às exigências do clima eclesiástico. No entanto, muitos homens, e talvez estejamos falando da maioria deles, sentem uma dificuldade tremenda de sentir-se à vontade dentro de um culto cristão. Podem até se esforçar, podem até esconder, mas o desconforto realmente existe.
Por isso, acredito que há algum tipo de mal entendido na forma como as igrejas modernas conduzem seus serviços religiosos. Não é possível que seu ambiente seja tão agressivo à natureza humana, ainda que especificamente a masculina. Não será que as pregações têm deixado de abordar um lado que também existe na religião? Não estaria a postura dos eclesiásticos dando ênfase a apenas um aspecto da estética cristã?
É para se pensar, ainda, pelo acréscimo oferecido pelo pensamento moderno, se a retórica pacifista, o politicamente correto, o amor romântico não estão feminilizando demais o discurso cristão, tornando mais difícil para o homens identificarem-se com o meio.
A solução para essa dificuldade, na história, parece ter sido resolvida de duas maneiras essenciais. A primeira, pela luta contra os vícios e pelas virtudes, em favor da honra e da nobreza. Este foi o caminho trilhado, por exemplo, pelos cavaleiros medievais, pelos puritanos e mesmo, no início de tudo, pelo próprio apóstolo Paulo. Neste caso, a vida cristã torna-se uma batalha constante, a ser travada por um guerreiro, que precisa sacrificar-se de maneira valente. Nada mais masculino!
Outro caminho foi oferecido pela própria Igreja, que ensinou os homens a defendê-la como a uma mãe ou esposa. Se aceitarmos as idéias dos arquétipos junguianos, esta seria uma solução inteligente para o homem projetar sua identificação feminina, sem precisar ele mesmo feminilizar-se.
A realidade é que, dentro do ambiente eclesiástico moderno, os homens sofrem, pois ingressam em uma luta entre a vontade de fazer parte daquilo, por entender ser o correto, e suas tendências mais naturais, que exigem dele uma postura mais viril.
Isto, sem dúvida, cria nele uma tensão e um desconforto. Não é difícil encontrar homens que se sentem frustrados por acreditarem que são pessoas frias espiritualmente, simplesmente por não conseguirem abandonar-se aos modos mais comuns praticados em um culto cristão.
Não seria bom, portanto, que a liderança religiosa, as próprias mulheres e outros envolvidos começassem a prestar mais atenção a este problema em vez de simplesmente criticar o homem por ele ser aquilo que ele é, conforme Deus o criou?
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