O conservadorismo é o inimigo comum

Cada vez mais, fica evidente que não se deve fazer concessões àqueles que não comungam dos mesmos objetivos, que não possuem a mesma cosmovisão e possuem paradigmas que se diferenciam muito dos seus, ainda que, politicamente, haja alguma afinidade de idéias.

No ano passado, quando a disputa presidencial ficou entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, a quase totalidade dos conservadores brasileiros fizeram uma campanha positiva em favor do candidato do PSDB. Apesar desse apoio ter sido dado com desconfiança, ele foi bem explícito, chegando a parecer mesmo uma aprovação à figura do senador mineiro.

Eu mesmo, ainda que sempre deixando claro que votaria nele bastante envergonhado, tomei uma posição muito clara em seu favor. Inclusive, cheguei a defender esse chamado voto útil, ou a escolha por um mal menor, de forma ardorosa contra a crítica de alguns outros conservadores um tanto mais inflexíveis. Estes negaram apoio a Aécio por uma razão muito simples: diziam que o partido social-democrata, apesar de ser um tanto mais liberal em matérias econômicas, em todo o resto, como nas questões de valores familiares, defesa da vida e assuntos culturais era tanto ou até mais radical em favor da visão esquerdista do que o próprio Partido dos Trabalhadores.

Na época, achei, sinceramente, que esse discurso estava equivocado. Na minha cabeça e de tantas outras que se expressaram nesse sentido, era melhor se concentrar em tirar o PT antes de tudo e, depois, poderíamos nos concentrar no PSDB, que estaria no poder.

No entanto, passado mais de um ano daquelas eleições e vendo a atitude da cúpula tucana, inclusive do senhor Aécio Neves e, agora, observando os ataques histéricos que um de seus maiores defensores na mídia, o senhor Reinaldo Azevedo, tem impetrado contra os conservadores e, principalmente, contra o provável candidato à presidência em 2018, o deputado federal Jair Bolsonaro, começo a reconhecer que talvez aqueles conservadores mais inflexíveis estivessem realmente com a razão.

Pode ser que, em algum momento, tenhamos acreditado que os tucanos, apesar de suas raízes fabianas, pudessem ser aliados dos conservadores. Talvez tenhamos tido a ilusão de que o apoio conservador ao candidato do PSDB causasse algum tipo de simpatia em seu partido pelas nossas causas, fazendo com que aliviassem um tanto o discurso progressista que sempre lhes foi próprio.

No entanto, os sinais foram claros que tudo isso não passara de um grande engano. O próprio Aécio Neves, ainda na época da campanha, declarou que jamais se direcionaria para o espectro da direita política. Além do mais, o programa de governo do PSDB era ainda mais radicalmente contrário aos valores conservadores do que o do próprio PT. Findadas as eleições, o candidato derrotado simplesmente se negou a dialogar com a parcela da população que votou nele, escolhendo a reclusão, em um sinal claro de que não havia qualquer afinidade entre ele e seu novo eleitorado.

Quanto aos seus defensores na mídia, principalmente no caso de Reinaldo Azevedo, que sempre foi um explícito apoiador dos personagens tucanos, até quando foi possível, tentaram manter uma relação cordial com a parcela mais conservadora da sociedade. Como havia um inimigo comum, pareceu que as aparentes pequenas divergências que havia entre eles ficaria diluída diante do problema maior, que era o PT.

No entanto, surgiu um fenômeno inesperado no meio do caminho: um provável candidato a presidente que está arrebatando grande parcela daqueles mesmos eleitores que apoiaram Aécio Neves em 2014: o deputado Jair Messias Bolsonaro.

É evidente que ao ver as cenas das pessoas carregando aquele que eles apelidaram carinhosamente de Mito nos ombros, em todas as cidades por onde passa, o alerta vermelho soou no quartel-general do PSDB e, a partir desse momento, um novo inimigo surgiu.

Então, aqueles que até aqui eram tratados como aliados, quase como companheiros de armas, de repente são tidos por fanáticos, radicais, ou como gosta de falar o senhor Azevedo, fascistas. Aquela que parecia uma aliança, ainda que tática, se mostrou, de fato, inexistente. O que se ouve, agora, é o destilar de um ódio irracional e a expressão de um medo histérico, que tentam demarcar os conservadores como extremistas que devem ser contidos.

Fica claro, com isso, que nós, os conservadores, realmente cometemos um erro. Acreditamos que era possível, de alguma maneira, compor-se, nem que fosse apenas precariamente, com esquerdistas aparentemente menos radicais. A realidade, porém, está deixando bem claro que tal acordo tácito apenas se sustentaria enquanto fosse favorável aos representantes social-democratas. Enquanto o apoio conservador oferecia suporte e votos para os políticos do PSDB, o fingimento permanecia. Bastou, porém, aparecer uma alternativa para esses conservadores e eles começarem a demonstrar que seu apoio e voto não seria mais para o tucanato, para se tornarem incômodos e não bem-vindos nos círculos progressistas, recebendo destes a pecha de radicais obtusos.

Isso deixa evidente, portanto, que o conservadorismo, se quiser se impor neste país, vai ter de buscar apoio onde ele sempre se manifestou da maneira mais natural, a saber, no meio do povo. Porque na mídia, nos meios intelectuais e na classe política ele vai continuar a ser o que sempre foi: uma ameaça ao status quo.

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