Pode até ser divertido acompanhar política como alguns o fazem: como se se tratasse de uma narrativa linear, um roteiro a ser acompanhado, uma novela.

É verdade que os fatos costumam ser tão escabrosos, tão surreais, que parecem mesmo episódios de um romance. Inclusive, muitas vezes, mais divertido do que eles.

Porém, acompanhar política dessa maneira expõe unicamente a superficialidade do observador. Quem não vê, na política, nada além de fatos que se sucedem, está vendo tudo, menos política.

Se há algo relevante na política são suas manifestações ideológicas, as regras subjacentes que costumam ficar invisíveis aos olhos incautos, as lições do passado que se repetem, os interesses que costumam esconder-se e o reflexo das aspirações que esforçam-se por disfarçar-se.

A política também possui uma linguagem própria e um jogo oratório e retórico que contêm uma infinidade de materiais interessantíssimos para ser analisados.

Mas há quem apenas olhe os fatos. E como diz Guitton: “O puro fato não tem existência”.

Os fatos, na verdade, só têm importância quando deles abstrai-se uma lei geral; quando deles extrai-se o sentido das coisas. Sem isso, não há análise política, apenas fofoca.

Saber quem tentou puxar o tapete de quem; quem falou mal de quem; quem é o traidor; quem faltou ao trabalho; quem ficou chateado com determinada situação – assuntos que ocupam boa parte das matérias veiculadas pela mídia – pode até ser divertido, agitar o ambiente e aguçar nossa curiosidade, mas não é análise política de maneira alguma.


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