Chego aos 30, como diriam alguns: a idade ideal. Nem tão novo, que possa ser traído pelos arroubos da leviandade; nem tão velho, que possa ser impedido pela resignação do cansaço. Penso em Jesus, por exemplo, que iniciou seu ministério exatamente aos 30. E por quê? Provavelmente pelas razões já ditas acima. Quem ouviria um jovem mal saído da puberdade? Ou como ter forças para agüentar missão tão sofrida sem a vitalidade da juventude ainda manifesta? Poderia citar outros como Martinho Lutero, que com 29 anos iniciou sua carreira gloriosa como teólogo e palestrante, o que culminou na Reforma Protestante. Ou Martin Luther King, que com 30 anos começou a colocar em prática o princípio da persuasão não violenta de Gandhi, o que desencadeou a maior revolução racial ocorrida nos Estados Unidos da América.
O mais importante é que vejo os 30 anos de um homem como um marco em sua vida. É nessa idade que ele deve decidir o rumo definitivo que irá tomar. E nesse barco chamado vida, vejo apenas duas alternativas para ele: largar os remos e preocupar-se apenas em manter a navegação sobre as águas, esperando ser conduzido a um porto seguro para atracar e descansar ou decidir manter-se remando, mesmo que contra a correnteza, mas seguindo firme na decisão de que “navegar é preciso, viver não é preciso”. Nesse último caso talvez navegar não seria preciso, se preciso for precisão, mas preciso se preciso for necessidade. E tão confuso quanto impreciso que foi esse pensamento, assim eu sei que é a vida de quem decide não ancorar. Decidi pela opção manter os remos nas mãos, ainda que isso me custe as dores, as tempestades, as ondas e talvez até um naufrágio.
Portanto, a partir desses meus 30 anos de vida, ser político não fará mais parte do meu cotidiano, pois não conseguiria sobreviver mentindo para mim mesmo, fingindo gostar do que não gosto, concordar com o que não concordo e pregar o que eu não acredito. Para isso, tentarei andar de acordo com Marco Aurélio, que pensava assim: “Faça o mundo o que fizer, diga o mundo o que disser, o meu papel é continuar a ser uma esmeralda e conservar a minha cor verdadeira”.
Claro que passo a correr o risco de não ser tão coerente, afinal para o ser é necessário medir demais as palavras. Assim, gostaria de citar, também, o sarcástico Erasmo de Roterdã, que arrematou: “…quero oferecer-vos duas sentenças. A primeira, antiqüíssima, é esta: Eu jamais desejaria beber com um homem que se lembrasse de tudo. E a segunda, nova, é a seguinte: Odeio o ouvinte de memória fiel demais”.
Nesse novo ciclo pretendo não ter mais receios. Principalmente o de magoar os outros. Não porque eu passarei a ser um homem duro e insensível, mas porque o medo de não magoar pode ser uma grande catástrofe. Quero ainda ler mais, orar mais, trabalhar mais, comer menos, praticar mais exercícios, mas, essas coisas já deveriam ter sido decididas há muito tempo, e talvez não seja a idade que vá mudá-las agora.
O que tenho certeza que muda é saber que estou no meio de um caminho que eu não conheço, início de algo que eu não tenho certeza, mas aprendendo a andar de cabeça em pé, para não perder de vista a paisagem que me acompanha em toda a trilha. Espero contar com os amigos e continuar confiando nos homens, pois sei que se isso acabar nada mais valerá a pena. Espero, ainda, ter ao meu lado aquela que, apesar dos percalços, me acompanha em toda a minha incoerência há, pelo menos, 12 anos. Nem falo de minha família, pois esta eu sei que nunca me abandonará, mesmo se eu me tornar um ser insuportável. Sei que ainda fui contemplado com uma nova família que foi mandada por Deus para preencher um vazio que parecia impreenchível. E meu pai, apenas para não precisar abrir um novo discurso, digo que é uma boa referência para eu saber uma parte do que me espera nos próximos trinta – e isso me deixa contente.
Enfim, sei que nenhum de vocês tem nada a ver com isso, afinal muitos já passaram dos trinta e nem se preocuparam com essas besteiras, outros nem chegaram lá e nem querem saber dessas coisas. Por isso, para começar a praticar essa nova fase que nasce digo: “Quem gostar de mim terá de minha parte sincera amizade; quem não gostar… vai ter de me engolir!”.
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