Marxismo é religião

Causa surpresa a forma como militantes de esquerda defendem sua ideologia. Quem já discutiu com eles sabe o quanto é difícil convencê-los de qualquer coisa que contrarie suas doutrinas. Para eles, quase nunca importam as razões e os fatos, mas vale mesmo a fé no que defendem. Isso acontece porque a ideologia esquerdista não é apenas uma proposta política, mas principalmente uma mensagem religiosa.

Vocês já viram, várias vezes, eu escrever que o marxismo – que é a base doutrinária de toda a esquerda – trata-se de uma doutrina religiosa. Mostrei, em meu artigo ‘Uma ideologia religiosa“, baseado no livro “Marxismo e religião”, de Heraldo Barbuy, o quanto o marxismo possui todas as características de uma seita, com seus profetas, seu livro sagrado, sua escatologia e sua doutrina.

Apesar disso, por essa afirmação sobre a natureza religiosa do marxismo não ser imediatamente perceptível, pois exige enxergar algo para além do discurso puro e simples que os marxistas apresentam, muitas pessoas tratam-na como um exagero ou um mero lance retórico.

Eu entendo essa reação. As pessoas aprendem que marxismo é política, que trata-se, principalmente, de economia. Afirmar que ele é uma religião parece apenas uma acusação de seus inimigos para desmerecê-lo, e nada mais.

Porém, uma coisa é certa: se o marxismo for realmente um tipo de religião, milhões de pessoas foram e estão sendo arrastadas para ele sem ter a mínima noção dessa sua natureza. Tornam-se, assim, presas fáceis de sua abordagem altamente proselitista.

Por isso é importante esclarecer: afinal, marxismo é religião? Ora, existem várias maneiras de se provar isso. O artigo e livro citados acima foi uma delas. Porém, nada melhor do que ler escritos de quem foi um dos maiores líderes da revolução comunista. Vladimir Ilyich Ulyanov, mais conhecido como Lenin, foi o gênio por trás da revolução bolchevique de 1917, na Rússia. Foi também um de seus mentores e guias – provavelmente, o maior deles. Além disso, era um homem que, comparado com outros líderes comunistas de seu tempo, era bastante ponderado e tido até por conservador pelas alas mais radicais do Partido.

Lenin escreveu vários artigos para os periódicos e manifestos da época e neles expôs muito de como ele entendia o marxismo. Fazia assim até como forma de educar os militantes sobre a natureza e objetivos dessa doutrina. Portanto, para constatar o quanto o marxismo tem forte conotação religiosa, basta ver o que ele expôs em um único artigo, chamado “Três fontes e três partes integrantes do marxismo”, escrito por ocasião do aniversário de 30 anos da morte de Karl Marx.

Nesse artigo, Lenin começa lamentando-se que “a doutrina de Marx suscita em todo o mundo civilizado a maior hostilidade e o maior ódio de toda a ciência burguesa, que vê no marxismo algo assim como uma seita nefasta“. Parece evidente, portanto, que os próprios contemporâneos da revolução já tinham percepção que aquele movimento continha algo além de político. E eles tinham razão.

Basta ver a afirmação que o próprio Lenin vai fazer logo em seguida, ao dizer que “o gênio de Marx reside, precisamente, em haver dado solução aos problemas levantados antes pelo pensamento avançado da humanidade“, para perceber o quanto ele mesmo via em Marx uma espécie de mensageiro religioso. Ora, nenhuma mera doutrina política se pretende solucionadora dos problemas da humanidade. Apenas uma proposta religiosa faz isso. Aliás, a isto se resume a religião: oferecer ao mundo uma solução. Quando Lenin afirma que o marxismo faz isso, está colocando-o não apenas no mesmo nível de outras religiões, mas afirmando que o marxismo é a religião mesma, ou seja, aquela única verdadeira que resolve os problemas do mundo.

Não é por acaso que, na sequência do texto, ele vai afirmar que “a doutrina de Marx é todo-poderosa“. Que expressão poderia ter conotação mais abrangente, chegando a igualar-se ao que se diz do próprio Deus? Todo-poderosa significa algo que possui o poder total, a força plena, que é universal, invencível e inerrante. Não é uma expressão aleatória, nem serve como força de expressão. É uma descrição que demonstra muito bem como os próprios marxistas enxergam seu ídolo.

Lenin, ainda, vai escrever que a doutrina marxista é “completa e harmônica, dando aos homens uma concepção do mundo íntegra“. É fato que nenhuma doutrina meramente política seria capaz disso. Apenas uma revelação religiosa poderia ser tão abrangente a ponto de ser considerada completa, tão perfeita a ponto de ser tida por harmônica e tão profunda a ponto de dar aos homens uma concepção integral do mundo.

Está claro, portanto, que os marxistas, conforme pode ser constatado nos escritos do líder se sua própria revolução, vêem sua doutrina como algo religioso, além das meras disputas políticas comuns. Além disso, há o fato, que poucas pessoas sabem, de os próprios seguidores de Karl Marx e Friedrich Engels, desde a última década do século XIX, chamarem-se a si mesmos de discípulos. Isto demonstra, claramente, que eles mesmos viam-se como seguidores de profetas que portavam uma mensagem redentora, uma doutrina de salvação, não como meros militantes políticos.

Não resta dúvida que não apenas o marxismo é uma ideologia religiosa, como seus próprios seguidores sempre enxergaram-no dessa maneira. Por isso, de nada adianta tentar contraditar marxistas com base em razões políticas e econômicas. Marxismo é religião e seguidores de uma religião não são convencidos por argumentos racionais.


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