Normalmente, a análise de um autor se dá por aquilo que ele escreveu. Quem se debruça sobre as ideias de um pensador costuma vasculhar os meandros de suas obras, na busca de entender até os detalhes mais recônditos naquilo que foi publicado ou mesmo nos escritos que permaneceram privados durante todo o tempo.
O que o Olavo de Carvalho faz nesta obra sobre Maquiavel, porém, é ir muito além disso. Sem desconsiderar aquilo que o florentino escreveu, mas usando-o apenas como norte de sua pesquisa, o professor se desvencilha das meras palavras externalizadas pelo escritor para buscar principalmente naquilo que ele deixou de publicar o verdadeiro sentido de sua obra.
Na verdade, o autor de O Príncipe acaba por ser desmascarado, mostrando o quanto sua indiscutível influência sobre o pensamento político ocidental pode ser considerado como algo extremamente pernicioso.
Se considerarmos que a obra de Maquiavel teve grande influência sobre Gramsci, Hitler, Stálin, Mussolini e até Fernando Henrique Cardoso, nós podemos ter uma ideia muito clara do perigo que ela representa, principalmente quando, ao ler esse trabalho de Olavo de Carvalho, aprende que o pensador italiano não pode ser levado tão a sério em relação aquilo que deixou para a posteridade, mas deve ser compreendido no que tentou ocultar.
As próprias diversas interpretações dadas a Maquiavel por outros escritores, tirando dele inúmeras facetas, muitas vezes até contraditórias entre si, já são prova suficiente de que o florentino, apesar da aparente demonstração de pragmatismo político, na verdade escondia uma figura muito mais confusa.
E o professor Olavo traz tudo isso à lume, mostrando para seus leitores o quanto a obra maquiavélica pode conter de intenções ocultas, falsidades ou, simplesmente, desordem.
Ler Maquiavel ou A Confusão Demoníaca se torna algo obrigatório para quem deseja ter uma iluminação das razões porque o Ocidente se meteu em aventuras políticas tão esdrúxulas, ao eleger como sua inspiração os pensamentos de quem se pode dizer, no mínimo, que possuía uma mente atrapalhada.
Publicado originalmente no NEC – Núcleo de Ensino e Cultura
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