Se há necessidade de lutar pela preservação ou pelo resgate da moralidade é porque já houve uma derrota no campo cultural.
Em tempos de crises, principalmente de crises morais, os cristãos modernos costumam encontrar-se perplexos, quase inertes diante dos desafios e dos dilemas a ser enfrentados. Quando essas crises são vividas em tempos relativistas como os nossos, quando o certo e o errado transitam em margens largas, sendo difícil, muitas vezes, identificá-los, à perplexidade soma-se a sensação de impotência. O sentimento que toma muitos é de que as coisas são como são e não há nada o que fazer.
No entanto, mesmo nesses momentos tormentosos, sempre se levantam alguns guerreiros, que convictos da superioridade moral de suas crenças e certos que podem influenciar a sociedade, se lançam em batalhas heroicas para preservar o que ainda resta de valores morais ou tentam, quase sempre inocuamente, resgatar outros que já foram perdidos.
São heróis porque tudo conspira contra eles. Desde que o mundo moderno pôs-se a girar, a tendência quase irreversível é de um afastamento gradual das verdades absolutas, um esquecimento dos princípios basilares e um avanço nas agendas seculares, as quais, invariavelmente, entram em confronto com a moralidade cristã. Lutar para preservar valores em um mundo assim é colocar-se na linha de frente de um barreira que tenta conter um turbilhão com as mãos.
E por mais que algumas vitórias sejam acumuladas (que, certamente, são motivo de regozijo), não é possível negar a sensação de frustração permanente. Isso porque cada vitória acaba significando apenas um alívio momentâneo, um tempo para respirar até que os adversários apresentem novas propostas para mitigar o que ainda resta de valores morais na sociedade. Por outro lado, quando uma demanda que fere a moralidade é atendida, quase sempre torna-se irreversível.
O que precisa ser compreendido por todos os que estão envolvidos nessas questões é que se há uma luta moral na sociedade é porque um dos lados já venceu uma batalha anterior. Isso porque quem ingressa em uma guerra moral já se apresenta na defensiva. O embate moral é uma reação, de fato. Se há necessidade de lutar pela preservação ou pelo resgate da moralidade é porque já houve uma derrota no campo cultural.
A batalha dos que estão no front é importante. No presente momento pode-se dizer imprescindível. Porém, se eles forem deixados lá, sozinhos, tentando apenas conter a onda relativista que toma o mundo, mais cedo ou mais tarde serão todos, eles e nós, engolidos por ela.
Se há ainda alguma esperança (e espero que sim) ela reside na tentativa de trazer a disputa para aquém de onde ela está ocorrendo. A moralidade é apenas reflexo de uma visão de mundo. Esta, por seu lado, é forjada na mente das pessoas nas escolas, nas universidades, nas igrejas e na mídia. Assim, se quiserem que haja uma luta justa, não apenas um ataque feroz de um lado e uma defesa desesperada do outro, é imprescindível que a cosmovisão cristã volte a fazer parte dos debates públicos, dos currículos, das artes e da cultura.
O momento é crucial para levantar do túmulo das ideias o cristianismo. Apenas tornando-o relevante para a sociedade é que seus seguidores poderão atuar com eficácia nas lutas que se impõem. Por isso, está mais do que na hora de dar um forcinha para a turma da linha de frente e aqueles que atuam no campo das ideias, como pastores, padres, teólogos, filósofos e livres-pensadores precisam sair do gueto do pensamento e colocar o cristianismo em seu devido lugar: na posição de resposta adequada para todas as questões da vida.
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