O problema da liberdade provavelmente é o problema crucial do nosso tempo. Em um mundo complexo, onde as ações humanas inter-relacionam-se cada vez mais, surge constantemente o questionamento sobre o quanto determinadas liberdades individuais podem afetar a vida das outras pessoas.
Certos de que muitas atitudes dos indivíduos afetam direitos alheios, os próprios cidadãos mostram-se ávidos por servir de fiscais do comportamento de terceiros, criando uma sociedade policialesca, onde tem predominado a ideia de que as restrições são necessidades crescentes, a fim de impedir que as pessoas ajam de maneira a prejudicar as outras.
No entanto, a lista do que pode ser considerado prejudicial é imensa. Para cada ato sempre haverá alguém para entender que ele é nocivo e, por isso, deve ser proibido.
A diversidade de opiniões e perspectivas é grande, fazendo com que a quantidade de exigências por restrições também o seja. Assim, as regras multiplicam-se, as proibições intesificam-se, tornando o espaço para a manifestação livre bastante limitada.
A verdade é que todo mundo diz defender a liberdade, mas faz isso geralmente pelos motivos errados. Defendem a liberdade, mas não em relação àquilo que lhes parece desagradável. Nestes casos, não titubeiam em exigir a repressão.
No fim das contas, pouco resta da própria liberdade daqueles mesmos que quiseram impedir que o que não lhes agradava pudesse ser realizado. Isso porque da soma de todas as exigências de restrições o resultado seja que quase nada seja permitido.
Essa é a diferença entre a defesa da liberdade por princípio ou de maneira casuísta. O defensor casuísta considera que o que não lhe agrada deve ser impedido. Quem defende a liberdade por princípio, por outro lado, tem consciência de que não é porque algo lhe pareça prejudicial deva ser proibido.
No fundo, um defensor, por princípio, da liberdade sabe que uma proibição aplicada hoje pode ser-lhe agradável, mas também pode se tornar a desculpa para que alguém requisite que uma liberdade sua seja restringida também amanhã.
Por isso, todo mundo deveria defender a liberdade, antes de tudo; a proibição deveria ser exceção. No entanto, acontece exatamente o contrário, principalmente porque quase ninguém consegue perceber a implicação disso em sua própria vida.
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