Conhecer algo não assegura conseguir expor esse conteúdo conhecido de maneira clara. O que parece muito certo na cérebro pode tornar-se bastante confuso ao sair pela boca. Há muita gente, sabidamente instruída, que, no momento de compartilhar seu conhecimento, é ininteligível. O que mais há são eruditos incompreensíveis. Isso porque pensar é uma coisa, comunicar é outra completamente diferente.
O conhecimento, enquanto na mente, caracteriza-se pelo caos. Sabemos muitas coisas, mas esse conteúdo encontra-se ali de maneira confusa. Não pensamos de forma organizada – o que não significa alguma falha em nossa forma de pensar. Simplesmente, a natureza do pensamento não se caracteriza por se deter à ordem, mas pelo dinamismo e pela versatilidade; a ordenação, nesse caso, limitaria-o.
Comunicação exige organização. Quem comunica algo não pode simplesmente pegar as ideias avulsas que povoam sua mente e lançá-las sobre seu interlocutor. Para ser inteligível, é preciso expor o conteúdo respeitando às regras da linguagem e da lógica. Palavras seguem palavras e ideias seguem ideias conforme uma sequência que permita não apenas serem compreendidas individualmente, mas também em seu conjunto, na relação de umas com as outras.
O conhecimento não é confiável quando é preciso expo-lo. Não poucos mestres tropeçam nessa arrogância, acreditando que por que sabem, não terão problemas em compartilhar o que sabem. Um talento superior pode ter a capacidade de organizar o conteúdo do pensamento no momento que o está comunicando. Isso, porém, é raro. Tentar falar de improviso pode ser uma armadilha, principalmente para os mais inteligentes; e geralmente resulta em confusão.
Do caos, que é da natureza do nosso pensamento, não pode surgir espontaneamente a ordem exigida pela comunicação. É preciso que haja uma intermediação da inteligência organizando tudo. Por isso, eu sempre aconselho a quem for compartilhar suas ideias que, antes, as exteriorizem para si mesmo, preferencialmente por meio da escrita. Dessa forma, terá a oportunidade de visualizá-las e organizá-las, afastando assim a confusão característica de quando elas apenas residiam na cabeça.
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