Tem gente que se orgulha por falar o que pensa, na cara de todo mundo, como se isso fosse o ápice da virtude.
Se dizem espontâneos e acreditam que, assim, agem de maneira louvável.
No entanto, espontaneidade não é necessariamente virtuosa.
Todo animal é espontâneo, diga-se de passagem. Assim, se fôssemos em tudo espontâneos, seríamos meramente selvagens.
A espontaneidade generalizada conduziria-nos à barbárie.
A evolução da civilização se dá exatamente sobre a mitigação da espontaneidade.
O homem civilizado é aquele que controla seus instintos, que modera suas reações, que abranda seus impulsos – tudo em prol da boa convivência e da harmonia social.
O autodomínio é a verdadeira virtude.
Falar o que pensa, indiscriminadamente, conforme quer e sem medir as consequências, é o mesmo que distribuir bofetões em quem achamos que merece – além de ser óbvia incivilidade, causaria todo tipo de problemas.
Ser civilizado significa refinar os modos; significa ser menos animal e mais racional, mais humano; significa controlar as reações.
Ser civilizado faz inclusive parecer meio bobo, meio frouxo, meio frágil, às vezes até meio efeminado.
Mas é só aparência. Controlar os instintos exige muita força de vontade, muito esforço.
A verdade é que o que a sociedade tem de pacífica, segura e harmoniosa deve-se ao fato das pessoas não fazerem aquilo que têm vontade.
Não fosse assim, seria apenas balbúrdia.
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