Sempre quando acontecem atos terroristas, boa parte da mídia mundial, e mesmo das pessoas comuns, costuma acusar a religião de ser a causadora das atrocidades. Vejam que não falam que é o islamismo, mas a “religião” é a culpada. E, nisso, surge a oportunidade de atacar outras religiões além da islâmica, principalmente o cristianismo.
Muito dessa atitude surge por oportunismo mesmo. São pessoas que já carregam um ódio contra a religião cristã e aproveitam a chance para tecer seus comentários acusatórios. E, dentro disso, há, ainda, um grave desconhecimento do que é o cristianismo. Se o entendessem, não abririam suas bocas para compará-lo com nenhuma outra religião, principalmente a islâmica.
Uma amostra disso está no artigo de Hélio Schwartsman, que foi publicado no jornal Folha de São Paulo, o qual, por não entender a natureza das religiões da qual está tratando, acaba analisando-as de maneira equivocada.
Quanto ao Islã, erra em acreditar que ele não fornece, por meio de seus escritos, fundamentos para os ataques terroristas. Ocorre que os escritos corânicos e, principalmente, as hadiths são fartos de passagens que instigam o muçulmano ao ódio contra o infiel. E o infiel pode ser qualquer um, desde quem afronte diretamente a religião muçulmana, como foi o caso dos cartunistas franceses, até quem simplesmente a despreze.
É verdade que há controvérsias e discussões dentro do Islã sobre cada afirmação sagrada em relação à perseguição aos infiéis. No entanto, apenas o fato de haver tais debates já demonstra que os escritos islâmicos são pródigos em fomentar a violência e a caça àqueles que, de alguma maneira, não obedeçam os preceitos maometanos.
Mas esse equívoco do articulista é providencial para ele. Dizendo que o terrorismo islâmico se dá menos por causa dos próprios escritos da religião e mais pelas interpretações equivocadas de seus fiéis, ele prepara o próprio caminho para incluir as outras religiões no mesmo saco de maldades. O problema, então, não é o que esta ou aquela religião ensina, mas a ideia religiosa em si, que sempre daria margem para esse tipo de radicalismo.
Feita essa equiparação, o campo está aberto para Schwartsman cometer seu segundo erro, mas que lhe servirá como base para sua conclusão. Segundo ele, o Antigo Testamento possui passagens e ordenamentos até mais violentos que os islâmicos, o que até pode ser considerado verdade, em alguma medida. Porém, ele acredita que o mundo ocidental moderno não pratica tais mandamentos meramente porque os interpreta tibiamente, ou como ele afirma, os tem por alegorias.
Entenderam o contorcionismo do articulista? Os Islã não é tão mal, os religiosos é que o interpretam errado. O cristianismo não é tão bom, os fiéis é que não o interpretam com todas suas consequências. Se há violência islâmica, é culpa da religiosidade, se há paz no Ocidente, é por conta da falta dela.
A conclusão do artigo não poderia ser mais reveladora: “a melhor coisa que aconteceu no Ocidente nos últimos séculos foi ter se tornado, se não irreligioso, ao menos pouco zeloso nessa matéria”. Com isso, podemos concluir que, a contrario sensu, se o mundo ocidental tivesse se mantido firme em seu zelo religioso, então viveríamos em uma sociedade pior do que a que vivemos hoje.
Tal afirmação até dá a impressão de que a sociedade moderna, laica e irreligiosa tem sido o arquétipo do mundo paradisíaco! O problema é que é impossível ignorar que os grandes males da sociedade laica – ou irreligiosa como prefere Schwartsman -, os grandes genocídios, as carnificinas e os expurgos foram causados não por representantes de alguma religião, mas por homens irreligiosos e mesmo ateus, como na Revolução Francesa, nos diversos comunismos espalhados pelo globo e, claro, no nazismo hitlerista.
É certo que hoje o Islã está espalhando o terror pelas nações, mas isso não pode ser lançado na conta das outras religiões, muito menos do cristianismo. O que muitos, como o articulista, estão fazendo, é tomar a maldade islâmica por padrão religioso comum e, aproveitando disso para exaltar o mundo sem religião. Mas isso não passa de mero oportunismo.
Além do que, não se pode ignorar que a paz cristã está no cerne de sua mensagem. Foi o próprio Cristo que ensinou a amar os inimigos, a dar a outra face, a não responder as injúrias na mesma moeda, a ter paz com todos. Ninguém pode acusar um cristão de, ao praticar alguma violência, estar seguindo um preceito de seu Mestre.
Além disso, o Velho testamento não é visto, como pensa o articulista, como alegoria, mas, sim, como um sistema que foi absorvido dentro dos preceitos de amor de um Novo Testamento entre Deus e os homens. Assim, neste, tudo aquilo que não coaduna com esse amor é substituído pelo novo preceito cristão. Aqueles preceitos destacados no artigo não são alegóricos, mas ordenamentos específicos para uma época, que ensinam sobre a vontade e o caráter de Deus, mas que não são mais aplicados porque foram substituídos pelos preceitos de Cristo – e isto é o cristianismo.
Se Schwartsman soubesse disso, sequer cogitaria equiparar ambas as religiões. Entenderia que no Islã, a violência, ainda que controversa, está no cerne de seus ensinamentos atuais, enquanto no cristianismo, qualquer mandamento mais agressivo não tem mais valor algum, pois sua mensagem é antes de tudo de amor e paz.
No entanto, como seu entendimento sobre as religiões está equivocado, ou propositalmente enviesado, não consegue conceber que a sociedade possa alcançar a paz preservando a fé. Como ele não sabe que a proposta cristã é de paz desde o princípio e que se as pessoas a assimilassem viveriam-na plenamente, acaba sucumbindo diante da ideia de que apenas uma sociedade sem religião pode ser pacífica.
O problema é que a história já lhe desmentiu antecipadamente.
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