Uma crítica honesta, principalmente no campo político, deve apresentar ao menos um vislumbre de uma solução viável para o problema. Sem isso, não passa de manifestação de preferência ideológica ou desafeição pessoal.
Ainda assim, a maioria dos críticos políticos, principalmente aqueles mais ácidos, tornou-se especialista em apontar problemas abstratos, ignorar as contingências concretas e imiscuir-se de oferecer qualquer solução alternativa. Escondem-se por detrás de palavras que soam bem, não dizem absolutamente nada e, pior, não propõem nada de concreto.
Essa atitude tem se manifestado de forma contundente no caso das crises imigratórias pelo mundo e, principalmente, das tentativas norte-americanas, por meio de seu atual presidente, de racionalizar e conter a imigração ilegal. O que mais se vê desses críticos são manifestações de almas escandalizadas, que adotaram os imigrantes, sejam eles quais forem, quais sejam suas intenções e quais forem as maneiras como eles empreendem sua imigração, como sendo os novos judeus diante de uma perseguição às avessas colocada em andamento por governos tidos por esses críticos como fascistas insensíveis, como o dos Estados Unidos.
Parece até bonito ler, por exemplo, um Leandro Karnal escrevendo que “entre a utopia pouco praticável de escancarar fronteiras e a ideia de uma muralha xenofóbica, poderiam existir soluções equilibradas”, mas o fato é que manifestações desse tipo, observadas com mais cuidado, revelam pressuposições mentirosas, que servem apenas para desviar a atenção do leitor do verdadeiro problema, apresentando-se como a parte racional, fingindo oferecer uma solução equilibrada que, na verdade, não existe.
Quando ele contrapõe as ideias de fronteiras escancaradas e muralhas xenofóbicas, na verdade, não está contrapondo ideias verdadeiramente defendidas por gente real. Poucos são os loucos que advogam a abertura irrestrita das fronteiras, como todos sabem que fechá-las completamente é impraticável. Portanto, o senhor Karnal está batendo em espantalhos, criados por ele mesmo, não em agentes políticos reais.
Há no entanto, em sua afirmação, uma crítica sutil, que não vai contra quem supostamente defenderia as fronteiras escancaradas – que ele bem sabe, são pessoas politicamente irrelevantes – mas contra o governo americano. Ao fingir revelar dois opostos sobre um mesmo tema, contrapõe um grupo não identificado e até irreconhecível, contra um governo existente e imediatamente identificável, passando a ideia de que, se aqueles estão errados, este também está, por ser xenofóbico e não querer permitir a entrada de estrangeiros de maneira alguma. O problema é que os primeiros não são ninguém, de fato, enquanto o segundo todo mundo sabe quem é. Ao apresentar essa falsa dicotomia, o senhor Karnal, simulando uma crítica universal, atinge o único alvo realmente verificável: o monstro fascista e isolacionista que quer fechar o seu país em um domo inexpugnável.
Na verdade, me parece que o objetivo do historiador é somente esse mesmo, afinal, a solução que ele finge apresentar não passa de uma bolha de ar que – algo típico de seus escritos e pensamentos – não significam nada, além de belas palavras. A não ser que alguém acredite que “soluções equilibradas” represente algo mais do que um som de flatulências.
O fato é que o tal equilíbrio karnaliano não se sustenta na realidade, pois ignora os problemas reais, como o tráfico de drogas, o terrorismo, a violência das cidades fronteiriças e própria ilegalidade do ato imigratório clandestino. Sua solução, que finge ser honesta, é apenas uma maneira de dizer o quanto ele mesmo possui pensamentos bonitinhos, enquanto seu criticado é mau.
A verdade é que enquanto homens como Leandro Karnal não forem cobrados, nas críticas que fazem, a apresentar soluções factíveis, continuarão a expelir os mal cheirosos elementos que se formam dentro deles, camuflados, obviamente, pelo perfume politicamente correto que sempre lhes acompanha.
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