Um cristão zeloso deve aceitar a historicidade dos fatos, sem temer perder, com isso, todo o caráter simbólico existente na narração.
Um debate muito comum sobre o livro de Gênesis é em relação a sua historicidade. Teólogos, ministros e até crente comuns, por vezes entram em fervorosos debates, com uns defendendo que toda a narrativa do Gênesis é histórica e literal, ou seja, as coisas aconteceram exatamente como está descrito na Bíblia, enquanto outros dizem o contrário, que tudo aquilo não passa de uma alegoria.
Tais discussões, porém, de maneira geral são estéreis. Isso porque nenhum dos lados possui evidências definitivas de sua tese. O que há são apenas referências indiretas que podem indicar a historicidade ou não da narrativa.
De qualquer maneira, o que mais importa no Gênesis bíblico é o símbolo de cada fato narrado. Cada momento da criação, cada fato que aparece ali carrega uma figura que ultrapassa o momento e indica uma realidade que é universal.
Por isso, entre os que aceitam a historicidade plena e os que vêem apenas alegoria na narrativa, obviamente aqueles levam vantagem. Isso porque uma história real não perde nada de sua força simbólica. Fatos absolutamente reais podem, perfeitamente, ser figura de verdades superiores.
Portanto, entendo que um cristão zeloso deve aceitar a historicidade dos fatos, sem temer perder, com isso, todo o caráter simbólico existente na narração.
De qualquer forma, para os que temem parecer ingênuos acreditando em uma história que parece tão simplória, cabe muito bem a reflexão sobre a realidade envolvida. Tratam-se das primeiras coisas existentes, da criação em seu estado inicial, do homem quase como uma criança, sem qualquer carga de experiência e complexidade. São dois seres em seus primeiros momentos de existência, em um mundo imaculado e favorável.
É importante ressaltar isso, porque o cristão moderno, já intoxicado com seus milhares de anos de experiências, frustrações e conhecimento tem uma dificuldade terrível em aceitar que uma história aparentemente tão banal seja o fundamento da sua própria história.
Mas o que esperar de um mundo, como o de Adão, ainda nascente? Pensando, por exemplo, na ordem de Deus para que Adão e Eva não comessem do fruto de uma árvore e o pecado deles ao comer, muitas pessoas se perguntam se isso não é alguma coisa muito infantil para ser a base de toda uma história universal. No entanto, eu mesmo pergunto: o que esses críticos esperavam? Que tipo ordem e pecado eles acham que era possível naquele momento? O que para nós, depois de tantos anos, é banal, para aquele casal representava tudo. Tomar o fruto de uma árvore proibida, considerando a simplicidade da realidade que ele vivia, tinha força similar a, talvez, um assassinato hoje.
O melhor método, portanto, para estudar a narrativa do Gênesis, principalmente os capítulos iniciais que se referem à criação, é, sem abandonar sua literalidade, buscar compreendê-la dentro de uma amplitude simbólica maior. Cada ato e cada fato encerram uma história, mas também uma lição. Cada situação é um fato, mas também um sinal, que expandido, em sua significação, para toda a humanidade, apresenta uma explicação da natureza humana e de sua relação com tudo o que o cerca.
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