“Estamos vivendo a pós-modernidade” – é o que escutamos por todos os lados. No entanto, o que isso significa? Mais ainda, como isso nos afeta e quais são as características desse período que o tornam tão marcante?
Stephen Hicks, em seu livro “Guerra Cultural”, traçou a linha histórica do pensamento ocidental que nos conduziu até aqui. Ele nos mostra, nessa obra, como as mudanças nas perspectivas filosóficas abriram caminho para o paradigma pós-moderno que vem tomando conta do nosso mundo.
Tudo começa no Renascimento, pois foi naquele período que a mentalidade medieval acabou anulada. Os pensadores renascentistas, na ânsia de superar a “ superstição” do período anterior, voltaram seus olhos para a terra e, aos poucos, foram deixando a perspectiva transcendental de lado.
No entanto, o Renascimento era a verdadeira idade intermediária, pois serviu de passagem da Idade Média, com sua concepção espiritual, para a Idade Moderna, com sua filosofia naturalista.
Na Idade Moderna, o centro desloca-se do espírito divino para a razão humana. A Filosofia passa a valorizar esta antes de tudo, demonstrando uma confiança quase irrestrita nas suas capacidades.
Disso, surgem as duas principais vertentes filosóficas desse período: o racionalismo e o empirismo. Cada uma com seus próprios paradigmas, mas ambas com a convicção de que a realidade pode ser conhecida por meio do exercício racional.
Com a confiança na razão vem a valorização do indivíduo, que é o seu portador autônomo. Portanto, a Idade Moderna vai caracterizar-se por exaltar o homem, principalmente, em virtude de seus atributos da inteligência.
No entanto, para que haja uma razão eficiente é preciso que exista uma realidade inteligível. Por isso, a Idade Moderna será marcada por seu realismo e objetivismo.
O Iluminismo, por fim, será o amadurecimento dessas concepções, tanto no sentido de cume de uma era como do início de seu apodrecimento. A partir dele, as instituições ocidentais modernas começam a ser estabelecidas e, ao mesmo tempo, a confiança na razão começa a ser questionada.
O primeiro solavanco dado contra a razão vem de Kant. Nele, a capacidade humana de perceber diretamente a realidade é colocada em dúvida, abrindo caminho para a tradição crítica que lhe segue e que, no fim de tudo, vai desembocar no pós-modernismo.
A partir de Kant, iluminismo e contrailuminismo seguem juntos. São ambos filhotes de uma reação à perspectiva religiosa, são ambos materialistas, ambos antropocêntricos, ambos revolucionários, ambos anti-tradicionalistas e ambos progressistas.
Até que alcançamos o século XX e suas duas Grandes Guerras, fazendo com que o que ainda havia de confiança irrestrita na razão recebesse o seu mais potente golpe. A partir dali, segundo as palavras do próprio Hicks, começa
uma troca de guarda. O contrailuminismo toma a dianteira. Ingressamos, gradativamente, no pós-modernismo.
Hoje, ainda nos encontramos em uma fase de transição. A perspectiva iluminista, com seu cientificismo e valorização da técnica permanece, porém, já não mais com aquela confiança irrestrita na razão. Cada vez mais, impõe-se uma visão relativista, subjetivista, irracionalista, voluntariosa e emocional de existência.
Pode-se dizer, portanto, de maneira bastante sintética, que o pós-modernismo é a culminação de uma oposição ao iluminismo, especialmente em sua confiança na razão. Quanto às outras características iluministas – a mentalidade revolucionária, o desprezo à tradição e a convicção de que o mundo pode ser transformado – o pós-modernismo as preservou e absorveu irrestritamente.
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