Carpideiras da pandemia

Eu não estou chorando pelos mortos dessa epidemia. Com exceção dos amigos e familiares das vítimas, quem diz que está também não. No meu caso, não porque eu seja insensível, nem porque eu não me importe. Eu apenas estou sendo sincero. No caso desses que dizem chorar pelos mortos, é diferente. Eles são hipócritas mesmo.

Todos esses que veem a público alardear seu choro pelos falecidos da praga chinesa não choraram durante todos os anos anteriores, quando vítimas e mais vítimas das mais diversas doenças tiveram suas vidas interrompidas. Pneumonia, infarto, câncer matam muito mais do que o corona já matou. E aí? Alguém chorou por elas, senão aqueles que as conheciam?

E quanto aos mortos pela violência brasileira? Esta sim uma ceifadora precoce de almas. Quantos desses que dizem derramar lágrimas pelos falecidos pelo vírus levantaram ao menos um lamento por eles?

Qual é a diferença? Por que os mortos de agora são mais merecedores de pranto do que todos os outros?

É que dizer que está chorando pelos mortos é uma maneira de mostrar-se superior. Ser uma carpideira da pandemia é uma forma de fingir que é mais humano que aqueles que insistem em atenuar o perigo.

Na verdade, estão dançando sobre os cadáveres, numa dança fúnebre, macabra, acompanhada de um canto triste, choroso, de voz embargada, mas de um cantor cheio de orgulho por lançar sua voz de maneira a que o público lhe admire.


Comentários

Uma resposta para “Carpideiras da pandemia”

  1. Avatar de Eduardo Uccelli
    Eduardo Uccelli

    Novamente eu lhe parabenizo pelo texto sincero e contundente na hipocrisia conveniente dos oportunistas abutres posando de corujas choronas das vítimas e arautos de futuras tragédias pandêmicas mas omissas se não até incentivadoras pela tragédia real e maior da futura crise econômica escamoteada por conveniência político-ideológica…

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