É incrível como as pessoas obedecem qualquer regra inventada pelas autoridades, ainda que elas sejam de aplicabilidade discutível, e mesmo que lhes façam mal. Parece até que a regra está acima da verdade, acima do bem e do mal.
As pessoas tomam as leis como se realidade fossem. Ainda que nada tenha mudado no mundo real, o comportamento delas muda quando seus governantes baixam seus decretos.
Observem o caso das máscaras: até um dia antes da obrigatoriedade de seu uso, poucas pessoas davam importância para elas. Bastou, porém, os governantes tornarem-nas obrigatórias e os cidadãos agora tratam-nas como um acessório de vida ou morte. São capazes, inclusive de brigar com seus vizinhos e ter ataques histéricos no caso de testemunharem alguém que não respeite seu uso.
Outro fenômeno interessante ocorre no caso dos restaurantes. As leis permitem que a pessoa tire a máscara quando ela se senta para comer. No entanto, o que muda em relação ao perigo real? Absolutamente nada, afinal, o vírus não tem altura mínima. No entanto, o mesmo histérico que grita com qualquer um que veja sem máscara, sente-se seguro ao acomodar-se na mesa de refeição sem o acessório de proteção. De onde vem essa segurança? Da realidade? Não, da lei. É como se, só porque a lei determina que na mesa de refeição não é obrigatório o uso de máscaras, não houvesse o mesmo perigo de quando a pessoa está de pé.
Andrew Lobaczewski percebeu algo desse fenômeno, que ele chamou de macropatia permanente. Esse nome é dado por ser um problema muito comum em sociedades de grandes dimensões. Nelas, por causa de suas grandes distâncias e heterogeneidade, estando as autoridades centrais geralmente distantes dos assuntos locais e individuais, os regulamentos, que costumam fazer sentido nos grandes centros, que é de onde eles partem, ao serem aplicados pelas comunidades menores e mais afastadas, acarretam graves distorções.
No fenômeno identificado por Lobaczewski, quando uma lei é imposta, de maneira uniforme, em um país grande e diverso, as pessoas são forçadas a aplicá-las de maneira indiscriminada, sem as adaptações necessárias. Assim, a população acaba forçada a recepcionar essas leis, que nada têm a ver com sua realidade, como se representassem a mais absoluta verdade, ainda que sua experiência imediata e bom senso não confirmem isso. Daí, ver as pessoas tendo atitudes absolutamente contradizentes é uma consequência óbvia.
A diferença é que agora esse fenômeno é global. Isso porque há regras uniformes regendo o mundo inteiro. Determinações oriundas de cientistas e burocratas encastelados em seus gabinetes profiláticos, forçando até mesmo pessoas de afastados rincões a obedecer normas que nada têm a ver com sua realidade cotidiana. A consequência é que o cidadão de Birigui acaba submetido às mesmas determinações que o de Nova Iorque. Portanto, a macropatia, que era a enfermidade social típica de países grandes, alcançou escala planetária.
Como consequência, o povo, forçado a adaptar-se constantemente para recepcionar regras que nada têm a ver com seu cotidiano, nem com a realidade experimentada, acaba com sua própria percepção afetada. Ele não pensa mais de acordo com sua experiência direta, mas conforme a abstração da lei, tomando-a como a definidora do que é do que não é. Um dia antes viva como se tudo fosse normal, depois que a autoridade a baixou, parece que tudo mudou.
Os governantes percebem isso e a lei, então, torna-se um instrumento de manipulação, servindo como berrante para qualquer prefeitinho, por meio de qualquer decretinho, conduzir sua boiada.
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