“Olavo de Carvalho oferece-nos uma obra concisa, sintética e objetiva. Ler “Aristóteles em Nova Perspectiva” é ter a impressão que décadas de estudos foram economizadas. Mais ainda, é ter a certeza que estamos sendo apresentados a algo que, não fosse o autor, talvez jamais nos daríamos conta”
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Quando li “Aristóteles em Nova Perspectiva”, de Olavo de Carvalho, antes mesmo de compreender a ideia do estudo apresentado pelo professor, me veio à mente o seguinte pensamento: alguém para escrever uma obra com esta precisa ter um poder de concentração bem superior ao ordinário. Para o autor alcançar as conclusões apresentadas, é evidente que não bastariam as diversas leituras, nem a capacidade superior de expressão, mas seriam necessários alguns requisitos que a mente comum normalmente não possui:
- um poder de organização das ideias de maneira que elas não se percam, em nenhum momento no processo de escrita, da ordem como elas foram percebidas pelo autor;
- uma visão de conjunto que seja capaz de abarcar muito além da ideia nuclear daquilo que está sendo pesquisado, mas atinja os detalhes mais marginais e que passam normalmente desapercebidos pelo estudante comum;
- uma percepção e intuição desenvolvidas de tal maneira que possam captar não apenas aquilo que está exposto de maneira explícita no material estudado, mas, principalmente, os motivos e razões subentendidos e até ocultados pelos autores lidos;
- uma coesão e uma coerência na escrita do próprio texto, de maneira que a ideia geral, em nenhum momento, se perca da vista do leitor. Para isso, esta ideia precisa estar muito clara na mente do próprio escritor.
- um poder de síntese que seja capaz de apresentar ideias, ainda que elas estejam esparsas e desordenadamente distribuídas em autores dos mais variados tempos e estilos, de uma forma concisa e clara.
Apenas um pensador que possui essas qualidades pode oferecer uma obra como esta, sobre Aristóteles. Ela é uma construção fenomenal, principalmente por ser feita não sobre uma matéria virgem, informe, que pode ser manipulada à vontade. Ela não é um exercício de imaginação, nem de criatividade, mas decididamente de reconstrução.
O que Olavo de Carvalho fez, e nisto reside a genialidade deste trabalho, foi restabelecer uma obra de engenharia intelectual do estagirita. Algo que, pelo que parece, passou desapercebido, durante dois milênios, da maior parte de seus investigadores. Enquanto quase todos os estudiosos enxergaram no Organon aristotélico formas de discursos apartadas e independentes, Olavo encontrou uma unidade. Assim, pôde reconstruir a teoria aristotélica como um restaurador de uma catedral destruída.
E apesar de obra tão monumental, da qual, certamente, se esperaria um livro gigantesco e prolixo, Olavo de Carvalho oferece-nos uma obra concisa, sintética e objetiva. Ler “Aristóteles em Nova Perspectiva” é ter a impressão que décadas de estudos foram economizadas. Mais ainda, é ter a certeza que estamos sendo apresentados a algo que, não fosse o autor, talvez jamais nos daríamos conta.
Quem conhece mais a fundo o trabalho de Olavo de Carvalho sabe que ele é um perseguidor da unidade do conhecimento, como ele mesmo diz, na unidade da consciência. E o que ele fez com Aristóteles alcançou exatamente isso. Olavo enxergou a unidade da obra aristotélica, captando-a como um organismo. E, melhor ainda, soube transmitir isso para seus leitores de maneira concisa e, ao mesmo tempo, clara.
A sensação, ao ler “Aristóteles em Nova Perspectiva”, é de ser colocado diante de um quadro, onde o pensamento do estagirita está perfeitamente desenhado, bastando-nos apenas contemplá-lo como ele se nos é apresentado: uma verdadeira obra de arte.
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