Não se engane pelo nome! O Ortodoxia não é uma defesa da fé baseada em doutrinas expostas em letras frias. Nem uma apologética teológica e dogmática, combatendo heresias com citações bíblicas. Na verdade, essa obra é uma celebração da descoberta de que o sentido da vida não precisa ser buscado em divagações exóticas, nem em idéias mirabolantes, mas esteve sempre disponível, bem diante de nós.
Chesterton, com sua tinta ácida e estilo que beira o jocoso, ao mesmo tempo que destrói a pretensão intelectual daqueles que supõem pensar de maneira desapegada dos princípios, conduz o leitor para a compreensão de que, na verdade, esses princípios nunca deixaram de estar ali, mesmo para quem não os aceita ou enxerga.
Para quem acredita que a pessoa inteligente é aquela que pensa por si mesma, o polemista expõe suas falácias e equívocos de uma maneira tão avassaladora, que no final não sobra nada com que tenham de que se orgulhar.
Por outro lado, para os cristãos vacilantes, que se sentem constrangidos diante de um pensamento mundano que lhes oprime, acusando-os de retrógrados e inferiores, o Ortodoxia lhes dá uma definitiva lição: de que o que possuem é muito maior do que qualquer filosofia avulsa que exista por aí.
Ler esse livro é descobrir, a cada página, que não estamos perdidos. É verdade que, muitas vezes, sentimos que o mundo é complexo demais para ser compreendido e a vida difícil demais para ser vivida. Porém, basta olhar para trás, para aquilo que sempre esteve ali, disponível para qualquer um, e vamos ver que não é que a existência é complicada, mas nós que nos afastamos, por orgulho e rebeldia, da verdade.
Essa obra de Chesterton é a desmoralização do pensamento independente, que toma suas percepções desapegadas de princípios como fonte legítima de filosofias. O que ela mostra é que há uma sabedoria subjacente a tudo e, sem ela, toda perscrutação é vã.
Digo, mais uma vez: não se enganem, porém, pelo nome! Ortodoxia está longe de ser uma defesa doutrinária. Pelo contrário! O pensador inglês faz até um convicto louvor ao que ele chama de misticismo, que, segundo sua concepção, significa nada menos que a aceitação do mistério, como parte da sanidade da inteligência.
Ler esse livro é, enfim, uma experiência única! Para aqueles que confiam demasiadamente em seus próprios livre-pensamentos, pode ser como a exortação de um profeta, alertando-os para o perigo de sua maneira de agir; já para aqueles que, como o filho pródigo, esqueceram, por um tempo, suas raízes, despendendo suas energias na dispersão mundana, o Ortodoxia pode soar como o pai chamando, com os braços abertos, de volta para casa.
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