Em minha juventude, nos tempos de escola e universidade, desde que decidi começar a ler livros, tive acesso apenas a autores de mentalidade progressista. Rousseau, Maquiavel, Marx, Russell, Nietzsche e outros assemelhados era o máximo que meu interesse podia abarcar. Na verdade, era até onde meu conhecimento chegava.
Li-os com voracidade, certo de que estava alcançando o que de mais alto havia em termos de pensamento humano. Não digo que, muitas vezes, não estranhava-os, com suas ideias heteredoxas que não encontravam morada natural em meu espírito. Porém, pensava eu, se aqueles eram os representantes máximos do pensamento, então o que eles diziam deveria estar correto. Bastava um esforço, de minha parte, para compreendê-los e aceitá-los.
De certa forma, essa minha ignorância podia ser explicada pela realidade do mundo acadêmico que eu vivia. Naquele ambiente, apenas autores progressistas existiam. Nem mesmo as bibliotecas abriam espaço para ideias diferentes daquelas que já estavam consagradas como as representantes do pensamento universal. E, para mim, o que havia dentro daquelas paredes representava tudo. Em minha cabeça juvenil, se meus próprios professores tinham aqueles pensadores como os verdadeiros representantes da inteligência, se existia algo fora daquela realidade certamente não tinha importância.
Além do mais, aqueles autores que eram lidos e indicados por todos, a todo tempo, em uma retroalimentação das mesmas formas de pensar. Não que não houvesse discussões e divergências, mas estas se restringiam apenas dentro de um mesmo espectro de conhecimento. Naquele tempo, eu nem lembro de ter ouvido falar de pensadores conversadores. Talvez, en passant, mas no máximo como exemplos de ideias extravagantes e irrelevantes.
Na cabeça de um garoto, mal saído da adolescência, se as instituições onde eu aprendia não consideravam certos tipos de pensamentos é porque eles deveriam ser tidos como se inexistentes. Não eram cogitados nem mesmo como possibilidades. Não eram sequer contestados, afinal, não se contesta o que não existe.
Dentro desse ambiente, convenhamos, não havia outra opção senão ser esquerdista. Isso não significa que eu me tornara um militante partidário, mas era quase impossível não ser, pelo menos, uma entusiasta e promotor das bandeiras da esquerda.
O que ocorreu comigo é o exemplo do motivo do pensamento esquerdista ser quase uma unanimidade dentro das escolas e faculdades brasileiras. Enquanto a pessoa comum vive sua natureza, e a natureza tende a ser conservadora, o homem que pretende as letras encaminha-se para superá-la, em favor de uma vida baseada na razão. E quando a razão é alimentada apenas por uma forma enviesada de entender a realidade, então é esta que ela vai assumir.
O universitário brasileiro costuma ser esquerdistas simplesmente porque naquilo que lhe é oferecido não existe contrapontos. O mundo das letras e do pretenso conhecimento que está disponível para ele não passa de uma bolha, onde só estão aqueles autores e livros que fortalecem a ideologia que lhes apraz.
Diante dessa realidade, apenas o acaso, a sorte ou um insight raro podem conduzi-lo para algo além daquilo que lhe foi imposto. Em dias de internet, isso passou a ser até mais provável. No entanto, em meus tempos de garoto, as possibilidades disso ocorrer eram bem pequenas.
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