O desespero do indivíduo moderno não é fruto de seu materialismo, mas de uma espiritualidade vazia de sentido, que valoriza o místico por ele mesmo, não havendo com quem manter comunhão.Tendo substituído a visão do homem integral pela dissociação da graça e da natureza, acreditou ter encontrado a liberdade, mas se deparou unicamente com a angústia. Vivendo uma autonomia sem fundamentos, tornou-se escravo de sua própria liberdade, restando apenas a desesperança de qualquer redenção razoavelmente racional.
Tendo substituído a visão do homem integral pela dissociação da graça e da natureza, acreditou ter encontrado a liberdade, mas se deparou unicamente com a angústia. Vivendo uma autonomia sem fundamentos, tornou-se escravo de sua própria liberdade, restando apenas a desesperança de qualquer redenção razoavelmente racional.
De qualquer forma, isso não ocorreu por uma escolha direta, mas por ser a única alternativa possível para quem perdeu todas as referências. Se antes o céu e a terra se encontravam numa relação medida por símbolos racionais que, a despeito da sublimidade das coisas celestiais, estavam presentes no cotidiano, a partir do Renascimento o paraíso desceu, se confundiu com o pó e perdeu o caminho de volta.
Acontece que o anseio espiritual não se perdeu, mas passou a ver-se preso a uma máquina determinista que o sufoca. Acorrentado a um mecanismo asfixiante, restou-lhe apenas o salto, um vôo irracional que tenta encontrar o alívio em um mistério inacessível à razão.
Diferente do homem anterior que, na racionalidade submetida a Deus, exercia seu pensamento livremente, o moderno se aprisionou nos cárceres de sua liberdade. Ao trazer o céu à terra, estraçalhou os símbolos que sustentavam sua existência, encerrando-os na mesma cova em que ele se encontrava. A partir disso, as formas clássicas de pensamento não puderam mais responder aos anseios íntimos de cada um e aqueles símbolos que se quebraram precisaram ser substituídos.
A irracionalidade, então, toma o trono celestial e, agora, sendo a senhora dos céus, reina absoluta sobre um mundo que a adora.
O homem, que era integral, que se relacionava com o céu com todo o seu ser, abdicou daquilo que o torna mais semelhante a Deus, encerrando a razão apenas ao cotidiano mecânico e utilitário. Para ela foram fechadas todas as portas da realidade superior, permitindo que neste plano ingressassem apenas a vontade e os sentidos.
Não é de se estranhar, portanto, que os filósofos modernos concluam que o homem nada seja e que o próprio Deus torne-se suspeito. Se o andar superior é o reino do irracional, que importa quem esteja lá? Dessa forma, são alçados para o céu qualquer fé, qualquer deus, qualquer espiritualidade. Se o místico é apenas um escape, não importa se há um objetivo, basta o salto.
A conseqüência final disso é a dúvida inclusive quanto à própria realidade. Ora, se o céu é o que eu coloco lá, como acreditar que haja um princípio inteligente? Deus, então, assume a forma segundo a vontade de cada um e se desfigura no desespero da humanidade.
O homem de agora está destituído de motivos, morto, perdido. Tornou-se um nada, um acaso. Se desfez em pedaços e talvez não se junte jamais!
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