A lenda da meritocracia capitalista

Por entenderem o capitalismo como um sistema fechado, quase mecânico, pelo qual, com a aplicação das fórmulas certas e com bastante trabalho e inteligência, se alcançará inevitavelmente a prosperidade, muitas pessoas concluem que nele prevalece a meritocracia. 

Parece até que numa ordem capitalista o melhor trabalho é sempre reconhecido, o maior esforço melhor remunerado e as boas ideias ordinariamente acolhidas. Porém, todo mundo sabe que não é assim que as coisas funcionam.

A meritocracia pressupõe um sistema lógico de recompensas, dando a cada um o que lhe é devidamente merecido. Porém, para haver retribuições justamente oferecidas é necessário que haja um poder central incumbido dessa distribuição. No capitalismo, contudo, acontece exatamente o contrário: a distribuição das recompensas ocorre de forma descentralizada, ou seja, é cada consumidor o responsável por pagar (recompensar), dentro de seu universo limitadíssimo e pelas razões mais insondáveis, o fornecedor.

Por esse motivo, no sistema capitalista os resultados não obedecem nenhuma lógica pré-estabelecida. Fórmulas idênticas alcançam termos diferentes, modelos aplicados dão frutos díspares e os produtos de aplicações equivalentes invariavelmente difereciam-se de maneira absoluta.

A meritocracia pressupõe que os melhores estão sempre à frente, mas no capitalismo o que mais vemos é o medíocre suplantar o gênio e o néscio ter mais conquistas que o inteligente. Relacionar ambos, portanto, não tem sentido.

Na verdade, a sociedade que tentou ser meritocrática, com seu lema “tomar de cada qual segundo suas capacidades e dar a cada qual segundo suas necessidades” foi a comunista – e todos vimos no que deu a experiência.


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