Em ano eleitoral, é bom preparar-se para testemunhar a diminuição sensível da diversificação dos temas tratados nos fóruns de debates espalhados pelos diversos meios de interação social. Chega um momento em que quase nenhum assunto parece mais ter relevância senão aquele que se refere exclusivamente à corrida pelos votos.
Nem é prudente tentar, nessas épocas, arriscar-se por materiais que não cuidem especificamente dos embates políticos do momento. Quem se dispõe a fazer isso tem muitas chances de ser rechaçado como um “alienado” ou alguém insensível ao problema primordial que a sociedade experimenta.
No entanto, apesar de reconhecer a importância da política, estou certo de que, dentre as coisas mais importantes, ela, sem dúvida, é a menos importante.
A política é o meio pelo qual os homens perseguem seus objetivos sociais. Seu caráter, portanto, é intermediário. O poder, que é o objetivo imediato da política, nada mais é do que o instrumento para agir na sociedade, a fim de melhorá-la.
Se a política é hipostasiada, porém, deixa de haver uma finalidade no seu exercício. Aqueles objetivos que se encontram além dela e que fazem parte de sua razão de ser deixam de existir, tornando-se, eles mesmos, meios de disputas. O que aguardava o efeito da ação política passa a fazer parte agora da própria política.
Os elementos absorvidos no jogo político, então, são destituídos de sua própria essência. Eles já não se mantêm instalados naquele nível do conhecimento que procura entender o que as coisas são. Sua natureza perverte-se, pois passam a fazer parte de um ambiente retórico, onde o que importa é a persuasão e as coisas, no máximo, podem ser tratadas como verossímeis.
A hiperpolitização rebaixa tudo ao campo das disputas verbais, transformando cada detalhezinho da existência em um potencial material de conflito. Todo fenômeno insinua-se como arma e seja qual for a forma como a realidade se manifesta, parece que sempre reclama posicionamento em um dos lados da trincheira.
Quando tudo se transforma em política, a própria política não tem mais razão de ser. A partir do momento que não há mais objetivos fora dela, todas as coisas passam a fazer parte do jogo de poder interminável, insolúvel e inescapável.
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