Há uma confusão que reside na mente de alguns iluminados que se consideram exemplos de fé inabalável: entender o vacilo do outro como relativismo. Insensibilizados pela própria arrogância e confundidos pela própria ignorância, acusam quem mostra algum tipo de hesitação, tipicamente humana, de serem propagadores de relativismo. No entanto, relativismo não se confunde com dúvidas ou vacilos de fé. Enquanto estes se manifestam por situações relativas à experiência, como algum tipo de frustração ou pessimismo, o relativismo caracteriza-se por uma certeza intelectual: a de que tudo é relativo.
O relativismo é, de fato, uma convicção. Quem o defende, acredita, com absoluta certeza, que nada é absolutamente certo. E por mais que isso seja autocontraditório, é a realidade do pensamento do relativista.
Porém, entender que a certeza relativista é equivocada não significa que a única alternativa viável seja a certeza plena sobre todas as coisas. A convicção de quem está certo sobre tudo é tão frágil como a do próprio relativista.
A verdade é que a experiência humana é sujeita a diversas nuances, a graus de certezas variáveis e à realidade inescapável das alterações em relação às convicções que temos em relação aos objetos de nosso conhecimento. E mesmo a fé religiosa não é absoluta. Pelo contrário, ela sofre graus de variações, que é exatamente o que permite que se trabalhe para fortalecê-la. Se a fé fosse tudo ou nada, se simplesmente a tivéssemos ou não, não faria nenhum sentido pedir a Deus que a confirmasse ou a firmasse e não teria nenhum sentido o próprio Cristo dizer acusar seus discípulos de homens de pouca fé. O que pode ser pouco, pode ser muito, pode ser mais ou menos.
Acusar, portanto, alguém que possui incertezas e que talvez não consiga vivenciar plenamente sua fé, a ponto de não possuir dúvida alguma nessa área, de relativista, é um erro conceitual e também uma tremenda insensibilidade.
Pessoas que demonstram suas incertezas não são relativistas. Aliás, nem poderiam ser, afinal, sob um determinado ponto de vista, os relativistas não têm dúvidas.
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