Certa vez, um amigo questionou-me se eu acreditava que meus argumentos estavam sempre certos. De pronto, respondi-lhe que sim. Afinal, se eu não acreditasse nisso, que motivo teria para expô-los?
Eu sempre gostei de argumentar. Para mim, é como um exercício: ao mesmo tempo que cansa, fortalece. É que a argumentação exige raciocínio, e também coerência . Isso demanda concentração, consumindo energia mental. Mas também tonifica o cérebro, tornando-o capaz de desbravar mesmo idéias que parecem as mais obscuras.
No entanto, a força intimida, e quem demonstra ter um raciocínio robusto e bem treinado é visto como uma potência ameaçadora. Talvez por isso meu amigo tenha feito aquela pergunta. Talvez ele, simplesmente, tenha se sentido ameaçado.
Até certo ponto, isso é compreensível. Argumentos, com sua obsessão por dar razão a tudo, são tentativas de desmascarar o erro. E as pessoas não se sentem à vontade quando seus erros, geralmente baseados em idéias prontas, são perturbados.
Um argumentador compulsivo como eu, às vezes, é visto como um chato. Não só isso. Quem insiste em apresentar motivos sempre que fala parece arrogante, como alguém que faz de tudo para mostrar que tem razão.
Porém, é preciso ver as coisas por uma outra perspectiva. Quem reclama de um argumentador não percebe a grandeza do ato de argumentar. É que, como afirma Chaim Perelman, “para argumentar é preciso ter apreço pela adesão do interlocutor, pelo seu consentimento, pela sua participação mental”.
Uma pessoa só se esforça por apresentar fundamento para o que diz porque acredita que seu ouvinte é inteligente o suficiente para entender o raciocínio, justo o suficiente para poder ser convencido e importante o suficiente para merecer tal esforço. No fundo, o argumento – seja ele qual for – é um elogio.
Quem dera as pessoas abandonassem um pouco suas certezas estabelecidas e suas sentenças pré-formatadas e começassem a usar da argumentação como um meio, não apenas de apresentar razões, mas também de compreender a realidade. Afinal, um argumento não nasce na boca do argumentador, mas começa em sua mente, em uma conversa dele com ele mesmo.
Por isso, não se deve desprezar um esforço argumentativo, afinal, o primeiro a ser convencido por ele é o próprio argumentador e é isso que faz da argumentação um instrumento indispensável na busca da verdade.
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